Thiago Nolla | 17 de setembro de 2015

made for TV: Emmy, Oscar e o conservadorismo das Academias

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/2013-emmy-award_winners.jpg”] Toda premiação nada mais é do que uma autocelebração. No meio audiovisual, isso não seria diferente: pelos festivais de cinema e “sindicatos que dão prêmios” mundo afora, as seleções, indicações e premiados raramente surpreendem – ou mesmo manejam aparentes surpresas que foram visivelmente calculadas. O Emmy, prêmio da Academia de Televisão dos Estados […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/2013-emmy-award_winners.jpg”]

Toda premiação nada mais é do que uma autocelebração. No meio audiovisual, isso não seria diferente: pelos festivais de cinema e “sindicatos que dão prêmios” mundo afora, as seleções, indicações e premiados raramente surpreendem – ou mesmo manejam aparentes surpresas que foram visivelmente calculadas. O Emmy, prêmio da Academia de Televisão dos Estados Unidos e tido como Oscar da Televisão, não teria porque ser diferente: um clubinho de regras ditadas e rostos carimbados que, mesmo sem predisposição para unanimidades, privilegia o status-quo da televisão aberta – sempre demorando demais pra aceitar mudanças e que, no cenário atual, a revolução já está na minissérie da HBO ou foi televisionada via streaming pelo Netflix.

Não é intenção aqui falar das categorias de séries contínuas, mesmo que essas categorias tenham tanto pra desconstruir: Mad Men chega a seu último ano com seu favoritismo capitaneado por um Jon Hamm ainda não premiado (uma heresia, coleguinhas); Better Call Saul veio pra chacoalhar os pilares desde Breaking Bad, mesmo que obrigado a dividir espaço com Homeland; o pessoal de Game of Thrones – pasmem – tem que se esforçar dobrado pra provar que, apesar dos pesares e do inverno que tá mais pra verão, é fantasia e melhor que muita indicação viciada de atuação – e ainda temos Tatiana Maslany, que devia ganhar prêmio sem concorrência somente pela indicação tardia. Para coroar a mesmice e inovar sendo retrógrados, os acadêmicos passaram a categorizar Comédia e Drama pela duração do episódio; porque, para eles, ter 20 ou 50 minutos é mais importante do que enredo e manejo da história. Vai entender.

Nas categorias de minisséries e telefilmes, temos o crème de la crème dessa mistura toda; pela primeira vez em anos, o Emmy dividiu as indicações de maneira esperta em “Filmes para Televisão” e “Séries Limitadas”– reconhecendo que por sinal aberto, fechado ou mesmo por streaming, a qualidade das produções demanda há anos espaço suficiente para ambas categorias. No entanto, jogar Frances McDormand (impecável em Ollive Kitteridge), Queen Latifah (feroz em Bessie) e Felicity Huffman (inefável em American Crime) na mesma categoria não é a solução. São interpretações diferentes por estarem em estruturas de encenação completamente distintas. No final, essa superlotação só transforma os prêmios de atuação em loterias injustas que, como bem sabemos, costumam preferenciar Jessica Lange inúmeras vezes.

Da mesma maneira, é importante entender que, mesmo a HBO quebrando recorde mais uma vez com suas mais de 130 indicações – além de o Netflix nocautear redes de TV aberta com suas 34 indicações – esse aparente reconhecimento não representa uma abertura real desse clubinho às tendências de produção de conteúdo. O termômetro dessa pseudo-aceitação está por todos os lados – como Orange Is The New Black realocada como Drama após ano passado, ou mesmo a ausência de prêmios principais de Drama para a HBO desde a unanimidade The Sopranos.

Na verdade, o clubinho do Emmy nada mais é do que o mesmo pessoal da TV aberta estadunidense que fundou a academia – que só convida House of Cards e Game of Thrones para participar da festa, mas ao final sempre premiarão incessantemente Modern FamilyIES e Jim ParsonS para continuar numa interminável auto-felação cada vez mais descolada da realidade.