Eric P Sukys | 8 de setembro de 2015

cine remix: Independência ou Corte: a história do Brasil remixada com seus cineastas

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Tarciscio-IM-3.jpg”] O Brasil está redescobrindo sua história — no cinema, pelo menos. Desde “O Som ao Redor” (de Kleber Mendonça Filho) até o recente “Que Horas Ela Volta” (de Anna Muylaert), diversos filmes revisitam as feridas que latejam na vida social do país, longe de se resolver. Aproveitando o 7 de setembro, Cine-Remix imagina […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Tarciscio-IM-3.jpg”]

O Brasil está redescobrindo sua história — no cinema, pelo menos. Desde “O Som ao Redor” (de Kleber Mendonça Filho) até o recente “Que Horas Ela Volta” (de Anna Muylaert), diversos filmes revisitam as feridas que latejam na vida social do país, longe de se resolver.

Aproveitando o 7 de setembro, Cine-Remix imagina como alguns cineastas famosos poderiam abordar (crítica ou comicamente) os marasmos e as convulsões que marcam a formação do Brasil.

A inspiração é o ótimo trabalho de Muylaert e de Carla Camurati, que, com seu “Carlota Joaquina”, praticamente refundou o cinema brasileiro, antes afundado pela gestão de Fernando Collor.

José Padilha – Brasil Ditatorial

Geopolítica, corrupção, paranoia, truculência e interesses escusos: a história do golpe de 1964 só não é mais adequada aos filmes de José Padilha porque falta uma voz em off. Mas isso se resolve rápido. Imagine Wagner Moura como um tenente da polícia encarregado de caçar subversivos, que narra sua descoberta de que comunistas também são seres humanos. Ele entra em grave conflito com sua consciência, que se perturba ainda mais nos diálogos com “Paraíba” (Irandhir Santos), simpático e sedutor militante de esquerda sob sua custódia. Desiludido, o tenente foge (mas não liberta os presos, o que rende a Padilha acusações de fascista, autoritário, reacionário, etc.) pela América Latina, escapando de um golpe atrás do outro, enquanto contextualiza tudo com sua narração onisciente: “eu estava longe de ser uma ave de rapina, quando comparado com a Operação Condor, deflagrada por setores do governo norte-americano durante os anos 1970”, ou algo que o valha.

Carlos Imperial – Brasil Colonial

Ícone das chanchadas cheias de safadeza e humor, o cafajeste Carlos Imperial (auto-indulgente a ponto de se auto-proclamar “Orson Welles do Brasil”) dirigiria, produziria e atuaria numa comédia meio machista, com mais sexo do que enredo e ambientada no período mais pseudo-regrado da história nacional: o Brasil colônia. Ele poderia encarnar um jesuíta que transa com todo mundo, um senhor de engenho que transa com todo mundo ou qualquer outra figura que transasse com todo mundo, sem prejuízo de fé, etnia ou classe social. O importante é que fosse debochado (de preferência a gerar a ira de grupos ligados ao politicamente correto), e o certo é que seria representativo do período: por mais que Portugal emitisse decreto atrás de decreto, a lei que pegou era a do cada um por si.

Jorge Furtado – Brasil em Crise

O olhar distanciado, cômico e profundamente sério de Jorge Furtado, mais sua perspectiva de cineasta gaúcho, talvez fossem triunfos numa reconstituição da queda da República Velha. O tom seria de deboche: bem-nascidos paulistas e filhos de berço-de-ouro mineiros disputando o governo, enquanto o mundo lá fora desaba, com o crash de 1929, a derrocada do café, a crise política e as insurreições populares. Acompanharíamos os bastidores, as gambiarras legais, as negociações cheias de mal-entendidos e os trambiques institucionais, mas tudo em vão, já que, no fim, Vargas toma o poder, num violento desvio de rota. Parece uma piada, e talvez seja; Furtado nos faria ver o irônico e o trágico nas frestas do ridículo.

Fernando Meirelles – Brasil Independente

Já reparou que em alguns filmes de Fernando Meirelles, o protagonista começa à margem e vai, gradualmente, chegando ao centro da narrativa? É o que ocorre em “Cidade de Deus” (Buscapé literalmente para no meio de uma briga de gangues), “O Jardineiro Fiel” e “Ensaio sobre a Cegueira”; é como ele poderia fazer um filme sobre a Independência do Brasil (não poderia faltar uma referência ao feriado). D. Pedro I começa a história como um moleque mimado, à parte das decisões duvidosas de seu pai, el-Rei. Quando D. João VI volta a Portugal, o jovem príncipe tem seu primeiro contato com o poder, e gosta. Conhece a Maçonaria, José Bonifácio, as agitações em busca de Independência pela América Latina. O clímax do filme é o brado heroico e retumbante às margens plácidas do Ipiranga, mas a boa sacada está no fim, quando D. Pedro I troca rapidinho o império brasileiro pelo reinado português, sem pensar duas vezes.