Eric P Sukys | 25 de agosto de 2015

cine remix: Kurt Cobain- O Musical (algumas ideias)

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/08/Kurt-Cobain-pp.jpg”] Assim que vi o sucesso do documentário “Kurt Cobain: Montage of Heck”, me veio a pergunta: quanto tempo até transformarem num filme de ficção? Numa série de TV? Em brinquedos, merchandising? E se, inspirados em espetáculos como “Tim Maia”, “Elis Regina”, “Simonal”, “Cássia Eller” e etc., adaptassem a vida de Cobain para um […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/08/Kurt-Cobain-pp.jpg”]

Assim que vi o sucesso do documentário “Kurt Cobain: Montage of Heck”, me veio a pergunta: quanto tempo até transformarem num filme de ficção? Numa série de TV? Em brinquedos, merchandising? E se, inspirados em espetáculos como “Tim Maia”, “Elis Regina”, “Simonal”, “Cássia Eller” e etc., adaptassem a vida de Cobain para um musical?

As chances de dar errado são enormes, talvez inescapáveis; pensando nisso, sugerimos algumas ideias. Não são regras ou limites, mas linhas de força, direções, pensamentos para elaborar a obra (que, além de teatro, poderia também virar um filme). Intercaladas, estão algumas canções indispensáveis (nenhuma do Nirvana).

“I’m a street walking cheetah
with a heart full of napalm
I’m a runaway son
of the nuclear A-bomb
I am the world’s forgotten boy
The one who searches and destroys
Honey gotta help me please
Somebody gotta save my soul”

The Stooges – Search and Destroy

[youtube id=”EDNzQ3CXspU”]

A primeira ideia é abandonar um roteiro que cubra toda a vida de Kurt Cobain. Por uma questão de economia narrativa: talvez compense mais concentrar-se num período específico da trajetória do cantor. Inspirar-se não em “Ray”, mas em “Inside Llewyn Davis”: um ano pode ser mais representativo do que um apanhado genérico de momentos-chave. Por que não retratar Cobain na véspera/gravação/lançamento de “Nevermind”? Ou compondo as músicas de “Bleach”, álbum de estreia? Assim, o espetáculo pode focar a tensão não resolvida da personagem Kurt Cobain: dividido entre percepção pública e vivência particular, oscilação entre o mainstream e o underground, alternância entre barulho e silêncio.

“Sell out, maintain the interest, remember Lot’s wife
Renounce all sin and vice, dream of the perfect life
This heaven gives me migraine
The problem of leisure, what to do for pleasure?”

Gang of Four – “Natural’s Not In It”

[youtube id=”1vPonjXOfYo”]

Também é preciso abandonar a pretensão da veracidade: assim como percebeu Gus Van Sant, em “Últimos Dias”, não se conseguirá descolar a aura do artista, construída ao longo de vinte e um anos. Além do mais, “Montage of Heck” já cobriu essa dimensão de Cobain com sucesso. Para isso, o musical deve colar, juntar, misturar e subverter a cronologia, sem medo do anacronismo, mas atento à verossimilhança. Van Sant é uma inspiração, mas não a maior: “O Jogo da Imitação”. Assim como à equipe de Turing, seriam boas algumas alterações à dinâmica de Cobain com a esposa e com os companheiros Nirvana. Courtney Love, Krist Novoselic e Dave Grohl poderiam ressaltar, por contraste, características do cantor: respectivamente, encarnariam sua pulsão autodestrutiva, a busca por legitimidade/autenticidade e o desejo (contraditório) de comunicação em massa/sucesso comercial.

“With your feet on the air
and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there’s nothing in it
And you’ll ask yourself
Where is my mind?”

Pixies – “Where Is My Mind?”

[youtube id=”qrdpliMfoAM”]

No centro da história, está o momento epifânico de Cobain em relação a seu legado, seu instante de claridade. Como ele terá enxergado as mudanças que o Nirvana trouxe, para os anos 1990 e para o rock em geral? Talvez ele tenha se dado conta durante o show seguinte ao estouro de “Smells Like Teen Spirit”, ou, no início da carreira, depois de uma boa reação da platéia à música “About a Girl”. Em transe, ele destrói sua guitarra no palco de um bar sujo de Seattle. Quando as luzes batem no seu rosto, borra-se a visão do público: parecem a ele uma massa selvagem, sedenta, anônima. Gritam seu nome, não o da banda. Cobain fica paralisado; Grohl sorri orgulhoso, Novoselic tem um ar de preocupação. Na plateia, Courtney Love nota a desorientação do rapaz loiro que canta e toca guitarra. Suado, à beira de um colapso nervoso, ele também a percebe. Entreolham-se.

“Now I see it
I think I’ll leave it out of the way
Now I come near you
And it’s not clear why you fade away”

Sonic Youth – “Teenage Riot”

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