Guilherme Barreto | 22 de maio de 2015

O Franco Atirador

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/05/maxresdefault1.jpg”] Juro que não é uma pergunta retórica, mas sim uma pergunta honesta: o que leva um ator com o talento e o respeito do Sean Penn fazer um filme tão ruim quanto esse “O Franco Atirador”? A sensação que fica é que, em um belo dia, Penn estava vendo televisão e viu que […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/05/maxresdefault1.jpg”]

Juro que não é uma pergunta retórica, mas sim uma pergunta honesta: o que leva um ator com o talento e o respeito do Sean Penn fazer um filme tão ruim quanto esse “O Franco Atirador”? A sensação que fica é que, em um belo dia, Penn estava vendo televisão e viu que o amigo Liam Neeson havia dado certo como herói de filme de ação e pensou: “Se ele pode, eu também posso. Vou, inclusive, contratar o mesmo diretor que mostrou que Liam leva jeito como herói de ação e ficarei sem camiseta ou com roupas justas em boa parte do filme, para mostrar que estou bem fisicamente”. O resultado final é facilmente um dos piores filmes do ano e algo que deve ser esquecido na elogiada carreira de Sean Penn, aliás, dele e de todos os envolvidos nesse projeto.

Baseado no livro de Jean-Patrick Manchete, o longa começa na África e apresenta o mercenário Jim Terrier (Sean Penn) junto com a namorada, a médica Annie (Jasmine Trinca). Jim aceita uma missão que envolve o assassinato de um político importante, mas terá que ficar recluso depois de fazê-la. Oito anos se passam e um grupo de assassinos aparecem para matar Jim. A fim de descobrir a identidade do mandante, o ex-mercenário terá que pedir ajuda para os antigos parceiros Stan (Ray Winstone), Cox (Mark Rylance) e Félix (Javier Bardem), que está casado com Annie.

O principal problema do longa, entre vários, está no básico: o roteiro. Escrito pelo próprio Sean Penn junto com Peter Travis (diretor de “Dredd” e “Ponto de Vista”) e Don MacPherson (“Os Vingadores” de 1999), o texto é simplesmente horroroso. Não basta a estúpida tentativa de tentar complicar uma trama que é simples, dada pelo momento em que Jim é diagnosticado com uma doença X no cérebro. Uso “X” porque é uma doença que ninguém sabe a origem, o que é ou qual é o tratamento, nem mesmo o roteiro sabe qual é essa doença e nem se importa, já que ela só vem quando é propício. Penn atira, mata e luta, mas só em alguns momentos a doença vem à tona, deixando o protagonista vomitando sangue ou com tontura.

No final, essa coisa não vai pra lugar nenhum, mas o que é realmente grotesco no roteiro são os diálogos. Ver grandes atores como Sean Penn e Javier Bardem com falas tão pobres e mal escritas é realmente degradante. O pior momento é quando Jim reencontra Annie em que o herói pergunta para a mocinha o que ela viu em Félix e a resposta é: “Quando um bombeiro salva sua vida, você tem uma dívida com ele. O Félix salvou minha vida e eu paguei a dívida com casamento”. Um dos piores diálogos que vi em vida.

Outros furos do roteiro estão em situações idiotas que você acaba percebendo a falta de lógica. Exemplo: Jim está com Stan em um pub e de repente, o segundo começa a discutir com um cara, quando Jim decide quebrar o braço do cara que está discutindo com Stan (Para quê?); Acontece um tiroteio na casa de Félix e enquanto acontece todos os empregados estão trabalhando normalmente (Aparentemente os empregados sofrem de deficiência auditiva); e o final que acontece em uma tourada, que, aparentemente, não tem nenhum segurança durante o evento.

O roteiro já é péssimo, mas a direção de Pierre Morel (“Busca Implacável”, “B-13 – 13º Distrito”) pouco ajuda. Embora tenha uma ou outra sequência de ação decente, a direção soa genérica e pouco inspirada, enquanto as cenas dramáticas são muito chatas e falham em aproveitar o mínimo potencial representado pela presença de atores de peso.

Aliás, é outro setor que o diretor desperdiça: o elenco. O próprio Sean Penn tem no máximo duas expressões faciais, Jasmine Trinca chega a ser irritante, Idris Elba está completamente desperdiçado e Javier Bardem pegou um dos papéis mais ridículos da sua carreira. O único que tenta algo é o veterano Ray Winstone, que traz seu habitual carisma.

Enfim, pouca coisa se salva em “O Franco-Atirador”. Parece mais que estamos vendo um exercício de vaidade de Sean Penn, que também é produtor dessa bomba, do que um filme que foi pensado e estruturado. Se formos comparar o Terrier de Penn com o Bryan Mills de Liam Neeson, Mills ganharia com fôlego.