Diego Olivares | 26 de março de 2015

Vício Inerente

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/03/Inherent-Vice-Benecio-and-Doc-2.jpg”] Dentre os tantos fatores que colocam Paul Thomas Anderson entre os grandes cineastas contemporâneos, um se destaca. Enquanto muitos diretores possuem uma assinatura estética, um filme de Anderson é facilmente reconhecido pelo seu ritmo autoral. Um ritmo cadencioso, com alguns picos de adrenalina, mas que ocorrem naturalmente. É incrível de se ver. “Vício […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2015/03/Inherent-Vice-Benecio-and-Doc-2.jpg”]

Dentre os tantos fatores que colocam Paul Thomas Anderson entre os grandes cineastas contemporâneos, um se destaca. Enquanto muitos diretores possuem uma assinatura estética, um filme de Anderson é facilmente reconhecido pelo seu ritmo autoral. Um ritmo cadencioso, com alguns picos de adrenalina, mas que ocorrem naturalmente. É incrível de se ver.

“Vício Inerente”, seu mais novo trabalho, nos transporta para um noir setentista, repleto de psicodelia hippie e de personagens memoráveis. A principal trama do filme gira em torno de Doc Sportello (Joaquin Phoenix), um detetive particular que investiga os sumiços de sua ex-namorada Shasta (Katherine Waterston) e do atual da moça, o magnata casado Michael Z. Wolfmann (Eric Roberts). A diligência de Doc resulta em uma viagem alucinógena, confusa, cheia de subtramas e deliciosa de acompanhar.

O roteiro afiado, baseado no livro homônimo de Thomas Pynchon, extrai humor de momentos que não seriam necessariamente engraçados, mas que influenciados pela visão “afetada” de nosso protagonista, arranca risos do público. É entre risos que Paul insere cenas pesadas, tornando-as ainda mais chocantes.

A fotografia, junto da direção de arte criam uma estética trazida diretamente dos anos 70. As cores explosivas, as roupas esfarrapadas e as sandálias sujas remetem diretamente ao período em questão. Brincaram bastante com isso na pré-produção quando lançaram o “Trailer definitivo dos anos 70”, com um visual ainda mais nostálgico.
O elenco do filme também se destaca. Além de um Joaquin Phoenix inspiradíssimo, as participações, muitas vezes pequenas, de grandes atores como Josh Brolin, Benicio del Toro, Jena Malone, Owen Wilson, Martin Short e Reese Whiterspoon são divertidíssimas. E por se tratar de Paul Thomas Anderson, é interessante (e ao mesmo tempo triste) pensar como o saudoso Phillip Seymour Hoffman entraria nessa brincadeira.

“Vício inerente” comprava a enorme capacidade de seu diretor. A variação de temas entre seus trabalhos é surpreendente, mas sempre mantendo um ritmo particular e uma qualidade imensa. Seus filmes são tão ou mais viciantes que as tantas drogas presentes em seu novo longa. Ele é um dos poucos diretores capazes de fazer de um filme de 2h30min uma experiência prazerosa e despretensiosa.