Cassia Alves | 23 de fevereiro de 2015

cine sexo: Documentário acompanha ato sexual sem cortes

Você já teve aquela sensação de que o sexo, como ele é, é sublimado nos filmes? Que uma trepada nervosa ou uma manifestação carnal de amor são subjugadas narrativamente? Se “Ninfomaníaca”, aquele petardo colossal do dinamarquês Lars Von Trier, sobre nossa conturbada e egocêntrica relação com o sexo provocou reações adversas, o mesmo deve se […]

Você já teve aquela sensação de que o sexo, como ele é, é sublimado nos filmes? Que uma trepada nervosa ou uma manifestação carnal de amor são subjugadas narrativamente? Se “Ninfomaníaca”, aquele petardo colossal do dinamarquês Lars Von Trier, sobre nossa conturbada e egocêntrica relação com o sexo provocou reações adversas, o mesmo deve se esperar de “Os dias mais belos que a noite” (2010), coprodução entre Bélgica e EUA recém-descoberta pela coluna. Trata-se de um documentário média-metragem de 55 minutos, filmado praticamente em tempo real, com cortes muito discretos e alguma lentidão propositalmente se opondo ao frenesi da edição videoclipada de cenas sensuais na atualidade.

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O filme, que não deixa de ser também um ensaio das diretoras Jennifer Lyon Bell e Murielle Scherre, apresenta apenas e tão somente duas cenas de sexo de um casal real que topa participar da experiência. A progressão é lenta e climática. Os beijos, as carícias, a emersão do clima, as preliminares, a penetração, o clímax, o gozo… tudo é acompanhado com afinco pela câmara que parece tatear o desconhecido. Há, porém, certo enfado na resolução da proposta. O sexo pelo sexo exibido em “Os dias mais belos que a noite” parece mais um movimento proselitista do que um exercício libertário da retratação do sexo. Explica-se. O objetivo preponderante parecer ser mais afrontar as convenções do que ridicularizá-las frisando o quão inadequadas elas são. Bell e Scherre, no entanto, querem mostrar a arte no sexo e, neste sentido, perdem o tesão de vista. Seja o tesão que o casal naturalmente sente, seja o tesão que o cinema mainstream esconde ao maquiar o sexo como já se antecipa que vai ocorrer com “50 tons de cinza”.

A falência da linguagem e a narrativa titubeante, no entanto, não desmerecem a proposta estética altiva do filme, que merece ser visto. Mas certamente reduzem seu impacto.

“Os dias mais belos que a noite” não é tão vazio quanto parece, nem tão eloquente quanto deseja. É um pornô de boutique e para os parâmetros atuais, tanto do pornô como do cinema dito tradicional, esse é o acasalamento perfeito.