Lilian Ambar | 11 de outubro de 2014

cine mulheres: Ninho vazio

Talvez esta seja a mais triste história que um filme pode contar: a perda de um filho. Qualquer mãe pode atestar que esta é, sem dúvida, uma dolorosa contramão do curso natural da vida. E, enquanto na vida real essas histórias são eventos que gostaríamos de esquecer, na ficção elas deram a grandes atrizes alguns […]

Talvez esta seja a mais triste história que um filme pode contar: a perda de um filho. Qualquer mãe pode atestar que esta é, sem dúvida, uma dolorosa contramão do curso natural da vida. E, enquanto na vida real essas histórias são eventos que gostaríamos de esquecer, na ficção elas deram a grandes atrizes alguns dos seus papéis mais memoráveis (e desafiadores).

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Clássico do cinema Americano, Ordinary People (1980) é um filme dirigido pelo ator Robert Redford, ganhador de 4 Oscars, incluindo Melhor Filme. Como o título sugere, ele nos apresenta a uma família comum do subúrbio americano. Um exemplo da vida perfeita dos cartões de Natal, não fosse pela morte trágica do filho mais velho num acidente de barco. E o roteiro escolhe nos apresentar à família exatamente após esse trauma, acompanhando seu impacto no íntimo de cada personagem. Calvin, o pai apaziguador, que tenta manter todos sãos e unidos. Conrad, o filho mais jovem, sofrendo a comparação com o irmão-exemplo e a culpa de ter sobrevivido ao acidente. E Beth, a mãe, talvez a mais marcante, interpretada brilhantemente por Mary Tyler Moore, é o exemplo da negação, da repressão de sentimentos e do impacto da memória de um filho sobre sua mãe.

Algumas das cenas mais impressionantes de Ordinary People envolvem Beth e o filho mais novo. Enquanto no começo assistimos em agonia eles ignorarem seus problemas, no meio do filme o rapaz tenta falar com ela sobre o irmão e o cachorro que eles sempre quiseram ter quando pequenos. E num momento de completa falta de comunicação, ouvimos Conrad imitar o latido do cão enquanto sua mãe não para de falar. Um momento de doer que soma-se a outros tantos, como quando Beth é surpreendida por um abraço de Conrad, deixando ela e todos nós com gosto amargo no lugar do “felizes para sempre”.

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Em Entre Quatro Paredes (2001), Sissy Spacek vive uma mãe que perde seu jovem filho assassinado num crime de ciúmes. O filme começa com a família em equilíbrio, vivendo uma vida dolorosamente normal. Ruth, a mãe, desaprova o romance de Frank e Natalie, interpretada pela ótima Marisa Tomei. Uma mulher mais velha, mãe de dois filhos e ex de um homem violento. As coisas se agarravam rapidamente e vemos o resultado trágico de uma briga entre o triângulo amoroso. Além de ter que conviver com sua dor, Ruth ainda é obrigada a conviver com o marido pacato dentro da casa onde todos um dia viveram normalmente. E na cidadezinha onde moram, ela é constantemente relembrada da sua perda ao ver Natalie caminhando pela rua ou tentando se aproximar dela. Um conflito entre duas mulheres em lados opostos de uma mesma tragédia. E pior, o próprio assassino do seu filho é libertado meses após o crime, tornando impossível para os pais contornar sua dor. E aos poucos vemos essas pessoas pacíficas se transformarem e tomarem medidas desesperadas.

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Mais recentemente, o tema do luto materno foi revisitado pelo filme Reencontrando a Felicidade (2010). Com Nicole Kidman no papel central, a história do jovem casal Becca e Howie (Aron Eckhart) começa logo após a perda do seu filho ainda criança, atropelado por um rapaz na porta de casa. Sabiamente, o filme, adaptado da peça de teatro Rabbit Hole, toma um novo rumo ao falar da dor da família, usando abertamente o inconformismo dos pais, sua falta de religiosidade e certo cinismo diante da vida após os acontecimentos. Algumas das melhores cenas do filme são, na verdade, alívios cômicos diante de tamanha tristeza, como quando Becca interrompe a reunião de pais para questionar o clichê do “Deus queria um anjo com ele” ou quando Howie aparece na reunião após fumar maconha e tem uma crise de riso diante de um dos depoimentos. E além disso, a aproximação de Becca e do assassino acidental do seu filho, ao invés de causar conflitos já esperados, traz de volta a esperança e a paz que ela tanto buscou.

Diante de diferentes abordagens sobre um tema tão difícil, o que fica é o trabalho excepcional dessas atrizes e o que elas fizeram com essa desafio em mãos. E mesmo em sua versão mais triste, provam mais uma vez que não há nada mais poderoso, na ficção ou na vida real, do que o amor de uma mãe.