Lilian Ambar | 28 de agosto de 2014

cine mulheres: Femme Fatale

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/08/novak-980×520.jpg”] Desde Adão e Eva, algumas histórias se aproveitam de uma personagem feminina e de sua beleza para justificar percalços ou desvendar mistérios. O termo atribuído a elas, Femme Fatale, descreve essa mulher atraente que causa problemas e infelicidade aos homens que se envolvem com ela. Mas, convenhamos, seriam elas de fato culpadas pelas […]

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Desde Adão e Eva, algumas histórias se aproveitam de uma personagem feminina e de sua beleza para justificar percalços ou desvendar mistérios. O termo atribuído a elas, Femme Fatale, descreve essa mulher atraente que causa problemas e infelicidade aos homens que se envolvem com ela. Mas, convenhamos, seriam elas de fato culpadas pelas burradas dos mocinhos dos filmes?

Um popular exemplo, talvez do último film noir, é Kim Novak em Um Corpo Que Cai (1958). Ela é a essência da Femme Fatale, algo que só Alfred Hitchcock poderia criar. Em sua fórmula há um pouco de tudo. Madeleine, uma misteriosa e frágil mulher (e loira), apresenta um comportamento estranho. Seu marido pede ao antigo colega Scottie (James Stewart) que a siga e proteja. O encontro dos dois não poderia ser diferente: Madeleine tenta se matar jogando-se às margens da Golden Gate Bridge, desafiando o medo de altura que assombra o protagonista há anos. Ele a socorre e a leva ao seu apartamento, numa cena tão boa que só poderia resultar no mocinho apaixonando-se por ela.

Madeleine é imprevisível como o medo de Scottie por alturas, ninguém sabe que efeitos pode causar. Por consequência, ela consegue concluir seu plano de suicídio jogando-se de uma torre de igreja, para o terror de Scottie que não consegue salvá-la. É quando somos introduzidos à rede de intrigas e reviravoltas dos roteiristas de Hitchcock, brilhantes engenheiros que dominam perfeitamente a maquinaria psicológica que nos move cada vez mais rumo ao olho do furacão.

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Até que o filme nos dá mais um golpe. Kim Novak tem um outro papel no filme! Ela reaparece como Judy Barton, agora morena, interpretando uma mulher igual a Madeleine e que parece não fazer ideia de quem é sua sósia. Neste momento estamos todos vidrados na tela, querendo saber como a história vai explicar toda essa loucura. A nossa própria loucura a este ponto. E aqui, sem querer estragar o final, o papel da Femme Fatale é fundamental. Ela carrega a cartada final, aquela rasteira que somente uma personagem linda e bem construída poderia nos dar.

Porém, fazendo jus à sua definição, deve-se ter muito cuidado com as Femmes Fatales. Primeiramente não se deixe enganar por sua beleza, ela deve necessariamente ser uma boa atriz. Rita Hayworth, por exemplo, eternizou Gilda (1946) na cena em que dança para os homens do cassino, mas ninguém o faria com tamanha glória. Um simples par de luvas atiradas ao chão e um ícone é formado. Não é para todas. A outra lição é que elas não são uma saída fácil para qualquer filme. Quando usadas de modo arbitrário viram um clichê, algo previsível como as namoradas de James Bond que invariavelmente o traem em algum momento do filme, provando-se espiãs. Até mesmo o filme intitulado Femme Fatale (2002) do talentoso Brian de Palma provou-se um fiasco. Na dúvida, priorize a cautela, essas mulheres não são brincadeira.