Andre Pacheco | 8 de agosto de 2014

cine brasil: Confia Em Mim

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/08/CAPA_PSE_casal_creditos_Ricardo_Picchi.jpg”] O filme “Confia Em Mim” (2014) é o primeiro longa metragem do diretor Michel Tikhomiroff. Seus trabalhos anteriores são voltados para publicidade e para a TV. E esse diretor pode ser lembrado como um diretor elegante, com uma boa métrica cinematográfica. Mas nunca um grande diretor. Sua formalidade técnica como diretor de cinema […]

[img src=”http://saladadecinema.com.br/wp-content/uploads/2014/08/CAPA_PSE_casal_creditos_Ricardo_Picchi.jpg”]

O filme “Confia Em Mim” (2014) é o primeiro longa metragem do diretor Michel Tikhomiroff. Seus trabalhos anteriores são voltados para publicidade e para a TV. E esse diretor pode ser lembrado como um diretor elegante, com uma boa métrica cinematográfica. Mas nunca um grande diretor. Sua formalidade técnica como diretor de cinema é mediana.
E esse seu primeiro longa é mais ou menos assim: mediano. Entretanto, algo de diferente aparece quando se dedica a uma análise mais racional desse filme.

“Confia Em Mim” conta a história de Mari (interpretada por Fernanda Machado), uma insegura subchefe de cozinha que sonha em ter seu próprio restaurante. Em uma degustação de vinho, conhece Caio (interpretado por Mateus Solano), um engraçado e sedutor que a conquista em poucos dias. Com o tempo, o filme passa de um estágio de alegria e romance ao suspense, onde Caio apresenta outra personalidade e acaba por roubar (propriamente dito!) os sonhos de Mari.

Um filme como esse poderia passar batido se se não analisado de uma forma mais sistemática e consciente. O longa do diretor Michel Tikhomiroff apresenta um estilo de filme que no Brasil não se vê! Suspense moderno, com aspectos de um roteiro inteligente e com requintes de crueldade, é uma marca do cinema americano. Há uma infinidade de filmes com essas características: amores roubados, crimes passionais, traições amorosas advindas da gana por dinheiro e etc. Até o mestre Alfred Hitchcock já realizou filmes desse teor (vide “Dique M Para Matar”, 1954!). E a realização de um filme assim, por mais que apareçam problemas estruturais em sua forma de ser, é um ganho no cinema brasileiro.

“Confia Em Mim” apresenta um roteiro muito mal arquitetado. Suas saídas para prender o expectador (já que se trata de um suspense!) são elaboradas de forma relaxada, descompassada. Muitos personagens secundários poderiam ser mais bem trabalhados. E alguma cenas, como as derradeiras, não produzem um clímax necessário e congruente com um filme desse modo. O roteiro deixa o trabalho todo medíocre!

Mas há qualidades nesse filme que não devem ser esquecidas. Os dois atores principais, Fernanda Machado e Mateus Solano, são maravilhosos! E encarnam seus personagens com características belíssimas que engrandecem o filme. Mesmo advindos da TV, os dois atores são ótimos! Qualquer crítica que se faça a eles fica indesejável, principalmente porque são elegantes, possuem um tempo de caracterização importante e demonstram fluência artística, acima de tudo!

Na introdução do livro “Cinema – O Mundo Em Movimento” (1995), do crítico de cinema Inácio Araújo, há uma citação de Blaise Pascal: “Nossa natureza está em movimento; o inteiro repouso é a morte”.

A ideia que Inácio Araújo perpassa é a da evolução do cinema em sua história. E a história da arte, basicamente, passa por essa citação de Pascal. MOVIMENTO! O cinema está em movimento constantemente, ano após ano; e o cinema brasileiro também! E com isso devemos entender esse filme “Confia Em Mim” como um seguir das águas…

Não há aqui uma obra “revolucionária” ou algo parecido, como cita o jornalista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, Cláudio Goldberg Rabin. Entretanto o longa do diretor Michel Tikhomiroff possui fluência e uma métrica não rara no cinema, mas quase impossível no cinema brasileiro atualmente.

Como diz Pascal, “o inteiro repouso é a morte”! E não devemos querer essa morte do cinema brasileiro apenas culminada em meras comédias provincianas! Que venham mais suspenses, mas com roteiros melhores, claro!