Andre D do C | 27 de julho de 2014

Fimografia Pixar | Toy Story 3

Já dizia o sábio da montanha (algum por aí, não importa) que as ideias mais geniais vêm das inspirações mais simples. Em 1995, quando John Lasseter, criou e levou às telas alguns dos personagens mais marcantes da animação e – se você, como eu, cresceu nos anos 90 – do cinema mundial, parecia óbvio que […]

TOY STORY 3

Já dizia o sábio da montanha (algum por aí, não importa) que as ideias mais geniais vêm das inspirações mais simples. Em 1995, quando John Lasseter, criou e levou às telas alguns dos personagens mais marcantes da animação e – se você, como eu, cresceu nos anos 90 – do cinema mundial, parecia óbvio que ele dissesse, em entrevistas após sessões do filme, ter se inspirado nos seus brinquedos de infância. Óbvio e, no entanto, épico.

Não tem como falar de Toy Story sem falar de começo. Começo da história do xerife Woody e do patrulheiro do espaço Buzz Lightyear, mas também do primeiro longa feito inteiramente em computação gráfica e, principalmente, da Pixar Animation Studios. A produtora, única em Hollywood que ainda não aprendeu a fazer filmes ruins, já existia há algum tempo, mas foi com os brinquedos de Andy criando vida que foi dada a largada para a incrível sequência de animações que viriam a seguir. Também por isso, Toy Story é ver a história sendo feita.

Feita ao longo de anos. A Pixar, quando seu primeiro longa estreou, já havia sido um braço da Lucasfilms, até ser posteriormente comprada pela Walt Disney Studios. A tecnologia pioneira utilizada no filme abriria um filão que seria explorado amplamente por outros estúdios. Sua sequência, Toy Story 2 (que quase seria lançada diretamente para VHS), foi a primeira sequência bem sucedida da Disney, além de ser a primeira a render mais que seu antecessor original.

Perto de 15 anos depois, quando a última parte do que é, até o momento, a única trilogia da Pixar já lançada, muitas coisas já haviam mudado. A Pixar já era reconhecidamente a Meca mundial da animação, que parecia se superar, tanto em excelência gráfica como em qualidade narrativa, em cada nova obra que produzia, sendo autora de muitos dos “filmes pra crianças” mais bem avaliados entre marmanjos. Não só isso, mas quando Toy Story 3 começou a ser idealizado, a produtora já havia saído da sombra do Mickey Mouse faz tempo. E na separação de bens, os direitos da continuação da história ficaram com a Disney, que chegou a tomar a iniciativa de desenvolver o projeto longe da Pixar e de John Lasseter. Felizmente, as negociações levaram para o caminho oposto.

Mas além de tudo isso, o público que foi levado aos cinemas também havia mudado. As crianças, assim como nas sessões de 1995, ainda preenchiam massivamente as salas. Mas quando as luzes se apagam e tudo começa, o filme se vira para nós, crianças e adultos de 15 anos atrás, que estão lá de volta, e permaneceram leais a Woody por todo esse tempo – quase tanto quanto ele foi leal a nós. A sequência em que os brinquedos, em uma tentativa quase desesperada, tentam resgatar um Andy quase adulto para de volta à infância é de fato um chamado para todos nós, que deixamos de ser criança faz tempo. E desse momento em diante, sabemos que os anos que nos separam do primeiro filme não farão nenhuma diferença.

A trama do filme se aventura muito além da nostalgia. Passados os primeiros momentos, a ação logo se impõe, tratando de introduzir novos personagens, novos ambientes e um arco narrativo que se desenvolve e se multiplica em perfeita sincronia com a trajetória emocional dos personagens. Os mais marcantes continuam por lá. O Rex, o Sr. e a Sra. Cabeça de Batata, os aliens do Pizza Planet (salvou nossas vidas, somos eternamente gratos – em loope eterno), Slink, o cachorro-mola, Jessie, Bala no alvo. Mas alguns já não estão mais, e para Woody e Buzz já está na hora de pensar no futuro do grupo.

É na busca por um novo lar, em que os brinquedos possam cumprir seu propósito e permanecer longe da lixeira, que a narrativa cresce e expande as fronteiras dos últimos dois filmes. De um líder sociopata ao se deparar com a morte iminente – temas que só mesmo a Pixar consegue transpor ilesos para crianças -, os brinquedos enfrentam de tudo, sempre a cada esquina lidando com novas circunstâncias e novas decisões a tomar. Mas não há por que se preocupar. A dinâmica do grupo ainda está lá, regada a muito bom humor e boas sacadas – o Buzz em espanhol é simplesmente hilário. E a amizade que conquistou o infinito e o além (sim, eu passei o texto inteiro esperando pra usar isso…) entre o cowboy desengonçado e o astronauta rechonchudo também está no lugar.

Tudo antecipa um final cheio de ação e discursos emblemáticos à beira do caos. E nós o temos. Mas o verdadeiro final da trilogia – um que também é arquitetado durante todo o filme – é que pega o público de surpresa. Menos pelo seu caráter climático, mas mais pela sua delicadeza, seu desfecho perfeito da história, e por ser tão, mas tão simples. E, portanto, épico.