Andre Pacheco | 25 de julho de 2014

cine brasil: ‘Hoje Eu Quero Voltar Sozinho’

“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014) é o primeiro longa metragem do diretor Daniel Ribeiro. O longa advém do curta metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (2010) do mesmo diretor e com os mesmos atores principais. Tanto o curta quanto o longa contam a história de Leonardo (interpretado por Ghilherme Lobo), um jovem estudante cego, […]

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“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014) é o primeiro longa metragem do diretor Daniel Ribeiro. O longa advém do curta metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” (2010) do mesmo diretor e com os mesmos atores principais.
Tanto o curta quanto o longa contam a história de Leonardo (interpretado por Ghilherme Lobo), um jovem estudante cego, que vive junto de sua amiga Giovana (interpretada por Tess Amorim) e que acabam se apaixonando pelo novo estudante de sua classe, Gabriel (interpretado por Fabio Audi).

Esse primeiro longa metragem de Daniel Ribeiro é sublime. Uma história simples e regada por um roteiro, também, simples. As interpretações dos três atores principais são simples. E até os coadjuvantes também possuem suas interpretações simples. A métrica do diretor Daniel, claro, é bem simples. Basicamente esse filme é um filme simples. Talvez o que seja diferente aos olhos de pessoas pouco sensíveis, seja o fato do personagem principal, Leonardo, ser cego e se descobrir num amor homossexual. Mas de resto é tudo SIMPLES!

Entretanto, esse filme é uma obra-prima!

Daniel Ribeiro consegue, realizando um filme basicamente simplista, uma obra com uma profundidade humana incrível. Sua métrica na direção possibilita que os atores consigam uma sinceridade com suas expressões e suas caracterizações em suas personagens que parece mais uma vida real do que propriamente um filme!

Os três atores principais, Ghilherme Lobo, Tess Amorim e Fabio Audi, são tão bons e conseguem uma atuação tão sensível e sincera que nem parece ser um filme brasileiro sobre adolescentes em uma fase de descobertas da vida.
O encanto, a sensibilidade, a sinceridade, a revolta, os sentimentos, a amizade, a liberdade, a família, a idade, a escola, o amor, o sexo… Tudo isso é demonstrado de uma forma calma e extremamente desigual. O filme é tão perfeito que até algumas incongruências, como as diferenças de roteiros entre o curta e o longa que possibilitam algumas discussões (como por exemplo, um aumento progressivo de personagens secundários para dar tempo ao longa), é esquecido em prol de um recebimento maior de quem vê o filme.

Muito se falou na crítica sobre o tema exclusão! Ser cego e ser homossexual e etc. Acredito que isso é muito menor numa discussão mais consciente sobre esse filme de Daniel Ribeiro. Talvez opiniões sejam mesmo diversas. E são, acredito, para todos. Porém o que mais se pode sentir nesse filme é o entendimento de que a vida é muito mais do que estereótipo, preconceito, opinião e diversos outros pontos que se observa em muitas opiniões sobre esse filme.
“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” reflete um cinema que expõe o ser humano em sua adolescência diante da vida e do que essa vida nos proporciona. Mas faz isso de uma forma cálida. Amor é tudo. É descobrimento, é dúvida, é conhecimento, é encanto, é desilusão, é paixão, é tato, é paciência…

Poderiam ser citadas nessa coluna várias qualidades que esse filme possui. Contudo, fico apenas com uma. A atriz Tess Amorim. A sua personagem, Giovana, é a melhor amiga de Leonardo. Ela está com ele diariamente. Está em sua casa toda hora. Vão e vêm sempre juntos em tudo. E até nos momentos de distância entre os dois, é possível de se observar no filme que eles estão juntos, de uma forma ou de outra. E a atuação dessa atriz beira o sublime.
A dedicação com que ela proporciona suas expressões e sua forma de atuação possuem um requinte raro no cinema brasileiro. São passível de se imaginar várias atrizes que possam ser comparadas com Tess Amorim. Mas sua delicadeza e sua sinceridade talvez sejam únicas. Seus trabalhos são uma pequena participação no belo curta metragem “Espalhadas Pelo Ar” (2007) de Vera Egito e no curta e longa metragem de Daniel Ribeiro.

Diante do que o cinema brasileiro realiza na última década, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é uma raridade. Entre o cinema sério e ótimo vindo de Pernambuco e o “cômico” e subdesenvolvido vindo do Rio de Janeiro/São Paulo (vide Globo Filmes e derivados!), Daniel Ribeiro realiza um estilo, uma métrica artística mais simples e extremamente profunda, como o cinema de Pernambuco. A única diferença aqui está no tato. E isso se caracteriza como nobreza no cinema nacional!