Thiago Nolla | 16 de julho de 2014

Paixão Inocente | Copia de filme de Sam Mendes peca pelo excesso de ingenuidade

Parece exagero, mas não é. O longa Breathe In, titulado no Brasil como Paixão Inocente parte da mesma premissa do filme Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road), dirigido por Sam Mendes e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. Sendo assim, esses dois filmes compartilham muito mais do que, digamos assim, seus questionáveis títulos nacionais […]

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Parece exagero, mas não é. O longa Breathe In, titulado no Brasil como Paixão Inocente parte da mesma premissa do filme Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road), dirigido por Sam Mendes e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. Sendo assim, esses dois filmes compartilham muito mais do que, digamos assim, seus questionáveis títulos nacionais dados de maneira pouco inventiva por parte de suas respectivas distribuidoras brasileiras.

Apesar dos problemas, ainda é possível encontrar alguns pontos que justifiquem a ida ao cinema para ver esse drama independente, apresentado pela primeira vez no Festival de Sundance do ano passado. Aparentemente, seu diretor/roteirista, Drake Doremus, é queridinho por lá – ganhou o Grande Premio do Júri nesse mesmo festival com seu trabalho anterior (e superior), Loucamente Apaixonados, e foi indicado em outras ocasiões.

Assim como em Revolutionary – sim, vou me ater ao titulo original por simples ódio à tradução -, a vida plástica e aparentemente sem liberdade de escolha de um grupo de pessoas do subúrbio americano é o mote desse longa. Na família da vez, Keith (Guy Pearce) é casado com Megan Reynolds (Amy Ryan), e dá aulas de música na escola local. Ele tem uma filha, Lauren (Mackenzie Davis), prestes a completar 18 anos. Com a chegada de Sophie (Felicity Jones), uma estudante de intercâmbio, as coisas começam a mudar.

Sophie é, de maneira bem clichê, o agente transformador desse enredo – desnecessário na “versão” de Mendes e também dispensável em Paixão Inocente. Ela influencia a “peça” – Keith – que precisa (questionável) ser influenciada, que não aguenta mais o cotidiano e deseja retornar a seus dias de liberdade, quando tocava com sua banda de rock. Sim, meus caros, tudo é tão estereotipado como parece, e essa definição de papeis é tão potencializada que mesmo as tentativas mínimas de humanização dos personagens não conseguem ultrapassar essas estacas emocionais iniciais estabelecidas nos primeiros minutos do filme.

Felizmente, enquanto tentamos sublimar a falta de apego e reconhecimento em Sophie, ou mesmo a ausência de credibilidade e excesso de “crise de meia-idade” de Keith, conseguimos manter certo envolvimento com a trama, que dispõe de recursos suficientes para segurar o interesse – mesmo com essas ressalvas – até o final. A edição, que parece uma variação das ultimas obras de Terrence Malick, abusa de momentos cotidianos com fundo musical inspirado. Apesar de um recurso batido, esse processo ainda funciona como forma de normalização dos personagens, suprindo os equívocos de um roteiro pouco maduro.

No elenco, temos uma unidade interessante, com boas performances que rendem momentos bastante tocantes. Apesar de não gostar de Guy Pearce, que sempre parece preso demais às camadas dos personagens e esquece-se de reagir, é de se reconhecer que ele faz um bom trabalho, mantendo sempre e na medida o semblante atônito e de inercia que alguém como Keith exige. Felicity Jones é uma descoberta encantadora; mesmo em um personagem mal desenvolvido, ela consegue ter o mínimo de dignidade e acertar em todas as cenas mais importantes. Mas é Amy Ryan que, com muito menos, faz muito mais: seus pequenos olhares, gestos, negativas e sorrisos amarelados são o grande trunfo desse longa-metragem. Seu semblante quando realiza o que está acontecendo é um primor, trabalho construído de maneira madura e inteligente durante todo o decorrer do filme.

Assim, mesmo sem a perspicácia de um Sam Mendes, Drake fez um trabalho minimamente interessante, que mantem o folego, apesar de todos os maniqueísmos primários que faz uso. Por isso, pode-se dizer que, independente dos problemas, a ida ao cinema é justificável – mesmo que quase unicamente pela presença de Amy Ryan.