Thiago Nolla | 17 de abril de 2014

Toque de Mestre | Crítica

Já há algum tempo, em conjunto com a experimentação de grandes diretores de cinema na televisão americana (David Fincher, David Mamet, Steven Soderbergh, entre outros), acompanhamos outro fenômeno interessante: a migração de atores hollywoodianos para terras estrangeiras, em busca de roteiros e diretores com perspectivas diferentes do mainstream oferecido pelo cinema americano. Por trazer, em […]

Grand-Piano-Elijah-Wood

Já há algum tempo, em conjunto com a experimentação de grandes diretores de cinema na televisão americana (David Fincher, David Mamet, Steven Soderbergh, entre outros), acompanhamos outro fenômeno interessante: a migração de atores hollywoodianos para terras estrangeiras, em busca de roteiros e diretores com perspectivas diferentes do mainstream oferecido pelo cinema americano. Por trazer, em essência, diversificação, pode-se dizer que é um movimento interessante – tendo em vista que nos trouxe ótimos exercícios como Enterrado Vivo, dirigido pelo espanhol Rodrigo Cortés e protagonizado por Ryan Reynolds.

Nessa corrente, que além de exemplos bem sucedidos como Enterrado tem alguns resultados questionáveis como Alatriste (com Viggo Mortensen), podemos identificar Toque de Mestre, nosso filme em questão. É um retrato nítido dessa “internacionalização” – produzido por Cortés, financiado com dinheiro de empresas espanholas, protagonizado por Elijah Wood e John Cusack e dirigido pelo desconhecido realizador espanhol Eugenio Mira.

A história é bem interessante: Tom Selznick (Elijah Wood) é um pianista que sofre de medo do palco após uma desastrosa apresentação ocorrida anos atrás. Não há entrementes nem enrolação, e já somos jogados no enredo exatamente no dia em que Tom retornará aos palcos, cedendo aos pedidos de sua esposa-atriz de cinema (Kerry Bishé). Também sabemos de supetão que esse retorno é uma homenagem ao mestre musical de Tom, falecido recentemente, e que tudo ocorrerá com o tão valioso piano desse gênio da música. Logo no inicio do concerto, Tom descobre um bilhete assustador em suas partituras e começa a receber ameaças durante o espetáculo – feitas, até então, por uma voz misteriosa (John Cusack).

É de se reconhecer que há originalidade nesse enredo, que traz dualidades interessantes – embora não desenvolvidas – entre o perfeccionismo musical e as constantes ameaças feitas pelos “vilões” da trama. Nesse ponto, há certo talento e elegância na direção conservadora de Mira, que faz uso de um roteiro enxuto e inteligente. A montagem é ágil (e um pouco clichê), correspondendo ao ritmo acelerado dado à trama – que é entremeada por uma trilha sonora incomum e interessante, e que talvez seja o elemento mais interessante desse longa-metragem.

No elenco, Wood responde bem ao personagem, mas é Cusack que, mesmo mantendo seu tipão já conhecido, rouba a cena utilizando poucos recursos. Mesmo sem aparecer durante boa parte do filme, sua impostação de voz e oscilações de temperamento são latentes, imprimindo bastante veracidade em todas as cenas.

Mesmo não sendo um grande filme, Toque de Mestre é uma janela minimamente interessante, que mostra a tentativa de fazer cinema comercial fora de Hollywood. Mesmo com maneirismos e clichês por demais enraizados nessa estrutura de fazer cinema de suspense, ainda há certo frescor na forma como Mira encara esse cinema de gênero. Por manter o folego e prender expectadores na cadeira – algo que é difícil encontrar nos exemplares atuais do já saturado mercado americano –, essa copia aparente de cinemão talvez mereça mais destaque e espectadores do que seus similares de gênero estadunidenses.