Andre Pacheco | 28 de fevereiro de 2014

Desafio Oscar | Nebraska – Dir. Alexander Payne.

A história do filme é bem simples. Idoso, Woody Grant (interpretado magicamente por Bruce Dern) acredita ter ganho 1 milhão de dólares através de uma propaganda de correio e tenta ir a pé de Montana a Lincoln, Nebraska, buscar seu “prêmio”. Seu filho, David (interpretado por Will Forte) acaba se comovendo com seu pai e […]

NEBRASKA

A história do filme é bem simples. Idoso, Woody Grant (interpretado magicamente por Bruce Dern) acredita ter ganho 1 milhão de dólares através de uma propaganda de correio e tenta ir a pé de Montana a Lincoln, Nebraska, buscar seu “prêmio”. Seu filho, David (interpretado por Will Forte) acaba se comovendo com seu pai e o leva até Nebraska em uma viagem onde acabam por se conhecer melhor e passam momentos com familiares e conhecidos de épocas passadas. “Nebraska” talvez seja o filme mais crítico e mais espetacular que o cinema americano já produziu nos últimos 10, 20 anos. A fotografia preta e branca, as cenas de Bruce Dern como um velho teimoso, a melancolia bucólica do interior dos EUA e sua população, as cenas de família, as discussões, os “amigos” de outrora, a ideia de percorrer distâncias dirigindo o mais rápido possível, a ganância pelo dinheiro, o tempo como propagador de caráter e personalidade, a vida comum, a vontade de se ter uma vida melhor diante das atrocidades do cotidiano… “Nebraska” é uma antologia social e estética que não se vê no cinema mundial. E faz décadas. Algo assim é como uma ruptura social, artística, filosófica e humana. A história de “Nebraska” é de um pequeno microcosmo de uma região dos EUA. Mas por ser uma obra tão sublime, é maior do que isso. Ela representa qualquer sociedade, de qualquer lugar do mundo. Uma obra aberta. E tudo isso vem das mãos do genial Alexander Payne. Seus filmes anteriores são grandes obras que observam as pessoas e suas vidas com uma sensibilidade ímpar. Ao lado dos Irmãos Cohen, Payne é um mestre do cinema americano contemporâneo. “Sideways – Entre Umas E Outras” (2004) e “Os Descendentes” (2011) são grandes observações artísticas de regiões dos EUA e de como a sociedade vive e revive suas vidas e suas emoções. Suas perdas e seus ganhos. E, claro, “Nebraska” é, até agora, o ápice da carreira de Alexander Payne. Há muitas cenas nesse filme que poderiam ser usadas como exemplo de sua grandeza. Muitas! Várias! Mas a cena final, quando o velho Woody passa com a camionete “dada” por seu filho pela rua de sua cidade de outrora, vendo e sendo observado por pessoas de sua história de vida, é possível de sentir toda a crueza que é a vida e suas nuances. Amores, decepções, sonhos e velhice são condicionados numa poética cinematográfica em forma de uma cena. Alexander Payne se coloca entre os grandes da história do cinema mundial. “Nebraska” é uma obra-prima.