Thiago Nolla | 25 de fevereiro de 2014

Oscar 2014 – Melhor Atriz Coadjuvante #SaladanoOscar

Menos de semana dos Academy Awards, a maioria das categorias ainda permanece sem muitos favoritos. Encarando isso de outra maneira, percebemos que é muito mais positivo que negativo: esse é um ano forte, com a maioria dos filmes selecionados oscilando entre bons e ótimos. E nessa lista de concorrentes muito competentes, ainda temos outro agravante: […]

Menos de semana dos Academy Awards, a maioria das categorias ainda permanece sem muitos favoritos. Encarando isso de outra maneira, percebemos que é muito mais positivo que negativo: esse é um ano forte, com a maioria dos filmes selecionados oscilando entre bons e ótimos.

E nessa lista de concorrentes muito competentes, ainda temos outro agravante: são filmes que diferem muito entre si, com temáticas variadas, mas sempre interessantes; temos na lista obras necessárias (12 Anos de Escravidão, Clube de Compradores Dallas, Philomena), pequenas grandes obras (Nebraska), trabalhos visionários (Ela) – além de grandes filmes de autores primorosos, como Scorsese (O Lobo de Wall Street), e realizadores com estilo a definir (Trapaça).
No meio dessa grande seleção, a dúvida na escolha dos prêmios de Atores/Atrizes não poderia ser diferente: grandes atuações, ótimas composições de personagens e diversos trabalhos que soam até despretensiosos, mas chegam quase sempre em um ótimo resultado. Por isso, também na lista de Melhor Atriz Coadjuvante desse ano, temos o mesmo cenário de indefinição: ótimas performances em diversos estilos, realizados por interpretes em diferentes momentos de suas carreiras. Vamos a elas:

Sally Hawkins – Blue Jasmine

Que Sally Hawkins é uma boa atriz, já sabíamos há algum tempo. A atriz construiu uma carreira bem consistente nos últimos anos, com performances marcantes em Simplesmente Feliz e Revolução em Dagenham. É uma atriz com marca registrada, sempre manejando seus personagens na linha tênue entre comédia e drama. Por isso, encaixou perfeitamente no conceito narrativo de Woody Allen, entregando uma Ginger bem próxima da Stella Kowalski que a inspirou – mas sempre imputando seus próprios trejeitos e impressões. É um bom trabalho, e a indicação veio a calhar como forma laurear sua recente carreira. É de se reconhecer que, mesmo estando o tempo todo em cena com uma Cate Blanchet inspirada até demais, Sally tenha conseguido impor-se em diversas cenas, parecendo sempre consciente de que seu personagem era o ultimo fio de sanidade que segurava Jasmine. Por isso, mesmo já considerada fora da disputa, a indicação já é, em si, uma forma de premiá-la.

Jennifer Lawrence – Trapaça

Impressionante. É essa a palavra que pode ser utilizada para definir tanto a carreira quanto à performance de Jennifer Lawrence em Trapaça, filme de David O. Russel. Jennifer chega à festa não somente com um Oscar de Melhor Atriz por O Lado Bom da Vida ganho ano passado, mas também como sucesso de bilheteria na série-blockbuster Jogos Vorazes. Ela é quase unanimidade entre público e crítica, algo que não víamos desde os áureos anos 1990, em tempos inspirados e recheados de estrelas como Tom Hanks e Julia Roberts.

Em Trapaça, Jennifer faz a esposa-troféu de Christian Bale, desbocada e incontrolável. Aos 23 anos, e sem nenhuma formação acadêmica, ela entrega um personagem difícil e cheio de nuances, em uma interpretação primorosa, que poderia facilmente cair no caricato sem a maturidade – até precoce, por assim dizer – da atriz. Mas há sensibilidade o suficiente nela para exagerar e conter cada gesto na medida certa – e, em um filme que talvez peque por falta de ritmo, nos faz torcer para que sua personagem retorne em cada minuto em que não está em cena.

Além de ser a favorita nas casas de apostas espalhadas pelo mundo, Jennifer chegará à premiação com diversos troféus – Globo de Ouro, BAFTA, e inúmeras associações de críticos ao redor dos Estados Unidos. Em um ano recheado de ótimas interpretações, se Jennifer sair de lá com mais uma estatueta, a Academia não faria somente história, mas também justiça, entregando o premio para uma atriz que merece recebe-lo.

Lupita Nyong’o – 12 Anos de Escravidão

Que o filme de Steve McQueen é um dos principais concorrentes esse ano, isso não é mais uma novidade. No entanto, uma das maiores razões dessa relevância está na veracidade e excelência do elenco, que inclui nomes como Chiwetel Ejiofor e Michael Fassbender. Mas a grande experiência sensorial vem da atuação completamente entregue de Lupita, estreante e aparentemente inexperiente. A atriz entrega um desempenho ambíguo e subsequentemente sincero, com maturidade e precisão; a Patsy de Lupita é sorrateira, com movimentos corporais leves e discretos, extensões comportamentais de quem quer somente passar despercebido. Quando “encontrada”, e ao mesmo tempo reprimida, a supressão explode em emoções exasperantes e emocionantes. Nessa delineação, Lupita encontrou o contraponto exato para o personagem de Chiwetel – e, exatamente por isso, engrandeceu ainda mais o filme. Está há poucos passos da favorita Jennifer Lawrence, e traz consigo também diversos prêmios, incluindo o de Melhor Atriz Coadjuvante no último SAG Awards. Em um ano tão disputado, parece que não podemos descartar essa forte candidata, que pode ser a única capaz de derrubar o favoritismo de Jennifer.

Julia Roberts – Um Álbum de Família

É certamente uma pena que a Academia não se deixou levar pela aparente encenação teatral permeada de toques de comédia ácida que caracteriza Álbum de Família. É, definitivamente, um dos melhores filmes do ano, e deveria ter cravado uma vaga em outras categorias principais, como Melhor Filme, Direção e Roteiro. Julia é um dos motivos pelos quais o filme é tão bom; além de estar irreconhecível e surpreendentemente natural (sem maquiagem, ao que parece), ela nunca esteve tão certa e contida em um personagem. Sua caracterização como Barbara, a filha mais velha, é tão intensa que nos faz esquecer quaisquer trabalhos anteriores. É, sim, a melhor interpretação da carreira de Julia, que nunca esteve tão espontânea, centrada e palpável. Seus momentos de fúria são brilhantes, e aqueles “pequenos olhares” transmitem exatamente o necessário, em uma personagem atormentada por uma mãe tirana e sem escrúpulos. Sua redenção é ótima, exposta em poucos gestos e extremamente delicada. Nesse ano, talvez ela não tenha muita chance. Mas também não seria uma injustiça se saísse com a estatueta nas mãos.

June Squibb – Nebraska

Como fã confesso de dramas familiares, Nebraska me cativou logo de início. A perfeita fotografia em preto-e-branco, a trilha sonora folk, a simplicidade da história. Nada mais universal que uma história sobre reaproximação entre pai e filho, contada a partir de um ponto de vista simples e direto. Alexander Payne acertou mais uma vez, e fez seu melhor filme até o momento. Boa parte por passar longe de diversos clichês que essas histórias podem trazer – e também por, em nenhum momento, demonizar nenhum dos dois personagens principais ou mesmo qualquer outro membro da família. Nessa obra, que também têm nas entrelinhas diversos momentos de critica acida a sociedade americana, o elenco é um caso a parte: Bruce Dern tem uma presença hipnotizante como o pai nessa historia, já em um estagio avançado da velhice, e Will Forte defende muito bem o filho condescendente e inerte. Mas talvez a melhor presença do elenco seja dessa jovem senhora, que brilha em todos os momentos em que aparece em cena. June Squibb não é uma iniciante; pelo contrario, tem mais de 50 anos de carreira – tendo já trabalhado com Martin Scorsese e Woody Allen. No entanto, é uma desconhecida, mais um exemplo daqueles mistérios de Hoolywood – que eleva ao estrelato personalidades ignóbeis e acabam por não dar espaço a atores de verdade. Agora, aos 84 anos, June teve o que pode ser uma chance derradeira: sua Kate, uma esposa que poderia facilmente cair no caricato e transformar-se em uma simples megera, resultou em uma personagem agridoce, divertida, desbocada e extremamente humana. Com uma naturalidade que até aparenta amadorismo, sua meticulosa atuação é, acima de tudo, sincera; aquela mãe que tem idade de avó, e que parece reclamar de tudo – mas defende sua família de maneira arrebatadora. Correndo totalmente por fora esse ano, temos uma ótima atriz que finalmente teve chance de mostrar seu talento – e teria sua carreira finalmente coroada se levasse pra casa um Oscar no próximo dia 02 de Março.