Reinaldo Glioche | 20 de fevereiro de 2014

Philomena | Crítica

De tempo em tempo, o cinema inglês nos presenteia com alguns filmes bons; e Philomena é um desses bons filmes. Baseado no livro de Marvin Sixsmith – um jornalista, que também e também personagem, interpretavo por Steve Coogan -, o filme conta a história real de uma mãe em busca do seu filho. A premissa exala pieguice, […]

philomena

De tempo em tempo, o cinema inglês nos presenteia com alguns filmes bons; e Philomena é um desses bons filmes. Baseado no livro de Marvin Sixsmith – um jornalista, que também e também personagem, interpretavo por Steve Coogan -, o filme conta a história real de uma mãe em busca do seu filho. A premissa exala pieguice, mas o trabalho de Stephen Frears e Judi Dench tornam o filme uma alternância entre a comédia e o drama.

A simples sinopse se torna mais interessante quando se assiste o filme, pois descobre-se que Sixsmith só quer escrever a história de Philomena porque perdeu seu emprego no governo; pensando em escrever livros de história russa, o jornalista se depara com uma oferta de publicar uma história de interesse humano – algo que a princípio detesta. Aparece a ele então a oportunidade de investigar a vida de uma idosa que procura seu filho há 50 anos; Philomena, ainda jovem, engravidou de um rapaz após um breve encontro em uma feira de diversões. Mandada para convento em Roscrea, na Irlanda, Philomena tem seu filho, mas é obrigada a trabalhar por quatro anos para pagar suas dívidas. Um dia, enquanto trabalhava, uma família rica chega ao local para adotar alguma criança e decide adotar o filho de Philomena, que nunca mais o vê; todas as vezes que tentou procurar seu filho, as freiras não atendiam ao pedido.

É curiosa a construção da narrativa do filme, e a Philomena de Judi Dench é deliciosamente divertida com toda sua personalidade, confusa e bem-humorada. A trilha sonora de Alexander Desplat, indicada ao Oscar, acompanha esses momentos. Mas o mais importante do filme é sua reflexão do catolicismo na Irlanda. A temática, sempre interessante, faz eco ao já mostrado em alguns outros filmes que buscam expor as feridas ainda abertas que o catolicismo deixou no povo irlandês, como por exemplo Em Nome de Deus, de Peter Mullan. Em ambos os filmes o tratamento que as freiras dão às pecadoras é desconcertante; a ausência da família, que concordava a internação ((seja porque a mulher engravidou, como foi com Philomena, ou até mesmo por ser bonita demais, como mostra no filme de Mullan) que pode ser chamada de análoga à escravidão; o desejo e o amadurecimento em um ambiente de repressão.

Ainda que os dois filmes combinem na tematíca anti-catolicismo, Philomena se torna muito mais gostoso de se ver. É sempre maravilhoso ver que Frears consegue proporcionar bons filmes, e de ver Judi Dench brilhar. Steve Coogan é um Sixsmith irritante, mas o faz de forma competente também; é sempre bom lembrar que Coogan também é roteirista e produtor da obra. Sem grandes outros destaques, Philomena é um filme delicioso, mas que surge como um azarão do Oscar – afinal, é um filme muito frágil (mas repleto de sentimento) perto de títulos como Gravidade e O Lobo de Wall Street.