Ricardo F. Santos | 20 de fevereiro de 2014

Oscar 2014 – Melhor Roteiro Adaptado #SaladanoOscar

Neste especial do Oscar 2014, analisaremos brevemente os 5 indicados na categoria de Melhor Roteiro Adaptado: 12 Anos de Escravidão – Escrito por John Ridley, baseado no livro “12 Years a Slave” de Solomon Northup John Ridley tinha uma extraordinária história de sobrevivência em mãos. A jornada de escravidão de Solomon Northup não é uma […]

Neste especial do Oscar 2014, analisaremos brevemente os 5 indicados na categoria de Melhor Roteiro Adaptado:

12 Anos de Escravidão – Escrito por John Ridley, baseado no livro “12 Years a Slave” de Solomon Northup

John Ridley tinha uma extraordinária história de sobrevivência em mãos. A jornada de escravidão de Solomon Northup não é uma história para os fracos de coração, e Ridley certifica-se de manter os elementos mais cruéis e brutais desta, em um retrato que mantém o foco exclusivamente em seus personagens durante os 12 anos do título. O que me chama a atenção, é a construção de seu protagonista: um homem livre desacostumado em obedecer ordens brutas e ser atacado com insultos baixos, o que leva Northup a travar diálogos excepcionalmente bem escritos com seus diferentes mestres. Toda a execução da narrativa funciona, seja na linha do protagonista ou nas subtramas (como aquela envolvendo o fazendeiro Epps e a escrava Patsey). O roteiro de Ridley é forte.

Antes da Meia-Noite – Escrito por Julie Delpy, Ethan Hawke e Richard Linklater, baseado nos personagens de Richard Linklater

Fico triste pela ausência de Antes da Meia-Noite em mais categorias, mas ao menos seu impecável roteiro foi lembrado pela Academia. Escrito por Richard Linklater e preenchido com diversas improvisações de Ethan Hawke e Julie Delpy, a terceira parte da trilogia romântica se diferencia radicalmente dos anteriores por apresentar uma trama mais “sombria”, explorando os problemas de relacionamento entre Jesse e Celine, 18 anos após seu primeiro encontro. Elegantemente destrói a ideia de “felizes para sempre”, contando com as habituais longas conversas teatrais e aqui com mais personagens que obtém tempo de cena. Algo que, se tira o foco do casal por alguns instantes, oferece interessantes paralelos e reflexões a respeito da relação de Jesse e Celine. E outra, eu assistira facilmente ao filme que Jesse elabora em determinada cena.

Capitão Phillips – Escrito por Billy Ray, baseado no livro “Dever de Capitão” de Richard Phillips

Paul Greengrass é conhecido por seu desejo de reproduzir fatos reais com fidelidade quase documental (vide seu trabalho excepcional em Voo United 93). Agora, se o roteiro de Billy Ray segue à risca todos os eventos envolvendo o sequestro do Capitão Richard Phillips é outra história, mas o que importa aqui é que seu texto cumpre o serviço; sendo capaz de prender o espectador na história – que se concentra quase que inteiramente na situação de risco do protagonista. O mais interessante, porém, foi a admirável decisão de Ray em apresentar tanto Phillips como o Muse (líder dos piratas) como seres multifacetados: em nenhum momento o líder dos piratas é visto como um vilão arquétipo, nem Phillips (ou a Marinha) como um símbolo de soberania estadunidense (uma bobagem que algumas pessoas conseguiram encontrar no filme). No fim, é o poder do choque sobre um ser humano seguro (e as ações que o despedaçam) que prevalece.

O Lobo de Wall Street – Escrito por Terence Winter, baseado no livro “O Lobo de Wall Street” de Jordan Belfort

Em cerca de 3 horas de duração, o roteiro do estreante (em cinema) Terence Winter é eficaz ao reunir diversos eventos importantes da vida do corretor Jordan Belfort. Como leitor do livro, parabenizo Winter pelo ótimo trabalho de adaptação ao tomar liberdades criativas com a história, ao pegar diferentes elementos da história e costurá-los em um único grande evento; causando maior impacto cinematograficamente. Mas adaptações à parte, a prosa de Winter é excepcional ao trazer diálogos inteligentes (a forma delicada de como se desenrola aquele entre Jordan e um agente do FBI é tão empolgante como um duelo de armas de fogo), engraçados e completamente situados no mundo das ações de Wall Street. As digressões de seu protagonista (seja em narrações em off ou em quebras de 4ª parede) são divertidíssimas e envolventes.

Philomena – Escrito por Steve Coogan e Jeff Pope, baseado no livro “Philomena: A Mother, Her Son, and a Fifty-Year Search”, de Martin Sixmith

E mais uma história real (impressionante, não? 6 dos 10 indicados de ambas as categorias são baseados em fatos verídicos) é reconhecida pela Academia, o consistente roteiro de Philomena. Seu grande mérito certamente reside nos diálogos entre os protagonistas, especialmente os divertidos choques de opiniões entre os dois; o que leva o texto de Pope e Coogan a abrir algumas discussões a respeito de religião, a repreensão de desejos sexuais, mídia e uma sombria revelação que coloca em xeque algumas práticas da antiga Igreja Católica. Mas no fim, Philomena agrada pelo tom leve e o eficiente equilíbrio entre humor e drama.