Pedro C Pardim | 5 de fevereiro de 2014

cine clássicos: Drácula

Drácula, Dracula, Tod Browning, 1931, 75 min Filme que fundou o imaginário ainda válido em grande medida do que seria um vampiro: sedutor, inteligente, letal.  Bela Lugosi, o conde Drácula do título, representa a imagem desse imortal em seus perigos e potencialidades: nos gestos calculados, no olhar quase exagerado (quase, eis o ponto), suas roupas, […]

Drácula, Dracula, Tod Browning, 1931, 75 min

Filme que fundou o imaginário ainda válido em grande medida do que seria um vampiro: sedutor, inteligente, letal.  Bela Lugosi, o conde Drácula do título, representa a imagem desse imortal em seus perigos e potencialidades: nos gestos calculados, no olhar quase exagerado (quase, eis o ponto), suas roupas, o modo de falar. Também há os símbolos hoje clássicos do gênero horror quanto aos vampiros: crucifixos, ervas, névoa, morcegos, caixões, estacas. Porém, nada de dentes afiados: no filme estrelado por Lugosi mais que mostrar explicitamente a violência em si, o que vemos são insinuações, sutilezas que convidam ao espectador completar a cena, sentir o medo presente nos personagens.

Drácula é filme dirigido por Tod Browning pelo estúdio Universal. Baseado no famoso livro homônimo de Bram Stoker e da adaptação teatral dos anos 20 na Broadway, o filme flerta com diferentes momentos do cinema. Era o início da década de trinta e o cinema há pouco deixara de ser estritamente mudo: a transição entre a forma e linguagem do cinema mudo ao cinema sonoro pode ser observada em Drácula. Como exemplo possível, dentre outros, podemos observar o recurso de destacar certos objetos, sem suporte sonoro, chamando atenção a eles, ou mesmo perceber sequências longas sem som ambiente algum, apenas as imagens da tela e as expressões dos atores.

Aliás, é fundamental destacar a atuação de Bela Lugosi. Ele já havia interpretado o papel do conde na adaptação realizada na Broadway: conta-se que ele não foi a primeira opção para o papel no cinema, mas acabou por ganhar o personagem por conta de seu lobby e a morte do outro ator cotado. Enfim, fato é que suas expressões faciais, seu sotaque carregado, a sutileza e dramaticidade dos seus gestos (reparem na mão dele ao sair do caixão ou como gesticula ao falar) constituiram um modelo, uma referência para o personagem.

Bem, a história começa durante uma viagem de carruagem de um grupo na noite de “Walpurgis”, uma noite sinistra. Conta-se que seres das trevas estariam livres pela noite e os moradores daquela região  da Europa Central recomendam ficar em casa com as portas e janelas trancadas após o pôr-do-sol. Acontece que o advogado Renfield (Dwight Frye, ótimo) não crê no que julga ser apenas superstição e parte para encontrar-se com Conde Drácula no seu castelo na Transilvânia: Renfield intencionava fechar com ele um contrato de aluguel de um mosteiro em Londres. Fatos estranhos ocorrem em sequência desde sua travessia até o castelo e sua impressão de que há algo estranho só aumenta ao entrar no local e ver sua grandiosidade, escuridão e estranhos habitantes (aranhas, morcegos, lobos que uivam ao longe). Há algo definitivamente estranho ali e logo o advogado será vítima do sinistro conde. A sequência de vítimas só encontra um obstáculo mais consistente ao entrar na história dr. Van Helsing (Edward Van Sloan), estudioso de forças e seres ocultos. Van Helsing e outros personagens buscarão salvar Mina (Helen Chandler), o mais novo alvo do desejo do conde. Mas de que maneira?

Outro clássico célebre de vampiros, e também baseado na obra de Stoker, é o alemão Nosferatu (1922) dirigido por Murnau. Obra-prima do expressionismo alemão cria um outro modelo de imortal, um vampiro ainda mais explicitamente assustador. Nessa versão alemã os nomes dos personagens são outros já que não compraram os direitos para uso da obra literária. De todo modo, a versão hollywoodiana do conde também dialoga de algum modo com parte dessa tradição expressionista: no jogo de claro e escuro, na fotografia sombria.

A partir desses clássicos, e da figura icônica do elegante conde de Lugosi, nasce uma longa tradição de filmes de horror. Alguns elementos de direção, cenário e caracterização tornam-se desde então referências para o gênero de horror e matriz de outros filmes de vampiros, demônios e afins.