Thiago Nolla | 4 de fevereiro de 2014

Fruitvale Station – A Última Parada | Crítica

Sempre ouvimos por aí, principalmente em casos de livros e filmes baseados em acontecimentos reais, que há histórias que precisam ser contadas. Quase todas elas, quando são adaptadas para o cinema, têm sempre uma relação ou momento de superação na vida de seus personagens principais – uma forma de criar um gancho com o espectador, […]

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Sempre ouvimos por aí, principalmente em casos de livros e filmes baseados em acontecimentos reais, que há histórias que precisam ser contadas. Quase todas elas, quando são adaptadas para o cinema, têm sempre uma relação ou momento de superação na vida de seus personagens principais – uma forma de criar um gancho com o espectador, conectar as pessoas àquela vida, seus meandros e ocorridos.

Nesse sentido, Fruitvale Station – A Última Parada pode ser visto como um exemplar que segue a primeira premissa; conta uma história de um fato chocante, ocorrido nos Estados Unidos: a brutalidade ocorrida com o jovem Oscar Grant (Michael B. Jordan) após a virada do ano de 2008, quando retornava para casa. Falar mais, por mais que essa seja uma história verídica, não seria necessariamente estragar o filme; mas vale deixar qualquer sensação para a sala de cinema.

Nesse caso, o diretor Ryan Coogler partiu de uma história verídica para contar uma história humana e em tempo real; acompanhamos Oscar durante todo o dia antes do acontecimento, e podemos nos conectar com todos os seus anseios e aspirações de maneira humana e simples: as brigas por dinheiro e obrigações com a namorada Sophina (Melonie Diaz), os medos e cuidados de sua mãe (Octavia Spencer) para que o rapaz não retorne à cadeia, entre outros. Tudo de maneira simples, direta, com câmera na mão. Mérito de um roteiro enxuto escrito pelo próprio Ryan.

No entanto, o que separa Fruitvale de outras produções é a diferenciação da segunda premissa mencionada – fato que pode justificar os diversos reconhecimentos em premiações internacionais, como o premio na Mostra Um Certo Olhar na edição passada do Festival de Cannes. A verdade é que não estamos diante de uma história de superação, e sim de uma história de uma tragédia, um acontecimento com razões enraizadas na construção da sociedade estadunidense.

Nesse caso, é possível que um realizador mais experiente tivesse enveredado a história e seu elenco para outros caminhos. Mas Coogler, talvez até devido a sua vivacidade de novo realizador, utilizou a história como elemento para contar tudo de maneira honesta, sem heróis e, pode-se dizer, sem vilões caricaturados.

Parte desse mérito vem de um elenco uniforme, no qual duas peças se destacam: Michael B. Jordan constrói um Oscar real e palpável, além de expressivo e delicado, em um personagem que expõe diversas inseguranças em pequenos gestos. Trabalho de “gente grande” para um ator até pouco tempo desconhecido. Além disso, como apoio, há uma Octavia Spencer ótima como a mãe do protagonista, roubando a cena e criando a real conexão com o espectador, em momentos contidos e extremamente emocionantes.

Assim, Fruitvale é um filme que deveria ter sido feito, e o foi de maneira exemplar – como há certo tempo não se via no chamado Cinema Independente estadunidense. Dentre tantas ótimas obras recentes – algumas com historias também essenciais de serem mostradas, como 12 Anos de EscravidãoFruitvale merece destaque pela sinceridade e simplicidade de seu roteiro e direção, e nos toca exatamente por contar uma historia que precisávamos, minimamente, conhecer melhor.