Andre Pacheco | 1 de novembro de 2013

cine brasil: Giovanni Improtta

“Giovanni Improtta” (2013) é o primeiro filme que o consagrado ator de cinema e novela, diretor de teatro e crítico de cinema José Wilker realiza. A história trata-se do bicheiro Giovanni Improtta (José Wilker) que deseja ascender socialmente e legalizar seus negócios. A trajetória de Giovanni no filme passa por problemas de traições nos negócios, […]

giovanni

“Giovanni Improtta” (2013) é o primeiro filme que o consagrado ator de cinema e novela, diretor de teatro e crítico de cinema José Wilker realiza.

A história trata-se do bicheiro Giovanni Improtta (José Wilker) que deseja ascender socialmente e legalizar seus negócios. A trajetória de Giovanni no filme passa por problemas de traições nos negócios, problemas familiares e toda uma gama de situações cômicas que potencializam uma visão crítica para com os poderosos na cidade do Rio de Janeiro.

Atuações coadjuvantes são do quilate de atores como Andréa Beltrão, Othon Bastos, Hugo Carvana, Milton Gonçalves e Jô Soares. A fotografia é do fantástico Lauro Scorel e a produção fica a cargo de nomes como Carlos Diegues (o grande diretor de outrora!) e Guel Arraes. O roteiro fica nas mãos de Mariana Vielmond, filha de José Wilker.

De uma forma geral, a estrutura física do filme é impecável. Toda a produção realiza trabalhos excelentes, deixando o clima kitsch que a história pede, maravilhoso. Algumas atuações podem ser lembradas, como a da atriz Andréa Beltrão, proporcionando uma bela movimentação com situações dramáticas e leves em sua personagem.

Diante disso, o que fica para analisar nessa obra é o desgosto e a falta de senso que esse filme proporciona.

No Brasil de hoje, há um sucesso generalizado com comédias ruins que ganham força com o imaginário chulo/televisivo da sociedade. Temos atores consagrados e outros iniciantes se misturando a personagens de programas de TV e ilustres comediantes de stand up em filmes de grandes bilheterias. Um caminho baixo, que se impulsiona por vários quesitos, foi achado por produtoras como a Globo Filmes. Muito justo. Porém, o grande José Wilker conseguiu quebrar a pobreza dessas comédias ruins e realizou algo pior, muito mais raso e que beira o absurdo, o indigesto.

O personagem desse filme, Giovanni Improtta, advindo da novela de sucesso “Senhora do Destino” (2004/2005), que também advém da escrita (o livro “O Homem Que Comprou O Rio”, 1970) do novelista Aguinaldo Silva, poderia ser um belo exemplo de como a sociedade brasileira é banhada numa moral rasa. E ilustrada em nosso tão conhecido “jeitinho brasileiro”, esse de levar vantagem em tudo!

Em uma recente matéria do jornal O Estado de São Paulo, sobre a 37º Mostra Internacional que acontece recentemente, o jornalista especializadoem cinema LuizCarlosMerten cita o grande cineasta alemão Wim Wenders com sua máxima simples e genial: “O cinema não é para entender, é para sonhar”.

E se o cinema é para um estado lúdico mais expansivo, em referência a Wim Wenders, o primeiro filme de José Wilker é horrível. Sua formalização, ao mesmo tempo irônica e crítica, não leva a nada. Não permite uma agraciação nenhuma. Um exemplo são os enquadramentos, que permitem uma bela visão estética da produção, mas com um clima obsoleto.

Há aqui, nessa obra, um estado de petrificação estético-crítica que beira o absurdo. José Wilker sempre foi um crítico de cinema no sentido clássico. Possui uma bela imaginação enciclopédica e há em suas falas sempre uma leveza importante e, até, elegante. E sua função como ator, claro, é um destaque do cinema e da telenovela brasileira. Entretanto, com “Giovanni Improtta”, tudo isso vai para o ralo.

As primeiras cenas do filme são de um enterro. Carros caros, negros e brilhantes adentram um cemitério, tudo em um ar fúnebre… A cena possui uma elegância enorme. Dá muito a entender que se trata de uma obra incomum. Mas quando aparecem os atores, o propósito da cena em si e o desfecho, fica fácil de entender porque um bicheiro milionário do Rio de Janeiro é tão ignorante e brega: ele não possui nada, a não ser o tão famoso “jeitinho brasileiro” de ser. E o mesmo ocorre como esse filme “Giovanni Improtta”, um belo exemplo de “jeitinho brasileiro”, ou seja, só serve para José Wilker ganhar alguma coisa. O quê, eu não sei!