Andre D do C | 29 de outubro de 2013

Um Castelo na Itália | Crítica

Ambientes excêntricos, pessoas escandalosas e situações pontuadas por uma dramaticidade que beiram o exagero e o constrangimento. Some-se a isso, diálogos enigmáticos e tramas insólitas, e você tem aí as características que se consolidaram como o estereótipo do cinema francês ao longo do século. Generalidades à parte, tal fórmula, sendo executada na França ou em […]

Castle in Italy aka A Chateau en Italie film still

Ambientes excêntricos, pessoas escandalosas e situações pontuadas por uma dramaticidade que beiram o exagero e o constrangimento. Some-se a isso, diálogos enigmáticos e tramas insólitas, e você tem aí as características que se consolidaram como o estereótipo do cinema francês ao longo do século.

Generalidades à parte, tal fórmula, sendo executada na França ou em qualquer outro lugar, precisa de um equilíbrio e consistência para que dê certo. E mesmo sendo uma caracterização geral, e muitas vezes injusta do cinema vindo do país, é essa capacidade de reger emoções extremas, transitando entre a sutileza e o drama, que geraram admiração internacional e agregaram a ousadia e a originalidade pelo qual o cinema “cult” francês é conhecido até hoje.

No entanto, Valéria Bruni Tedeschi nos entrega aqui um filme que, infelizmente, parece ter todas as ambições e pretensões de profundidade, sem nenhuma ponderação. Dessa vez, ela interpreta XXXXX, uma ex-atriz de seus quarenta e poucos anos, cujo desejo absolutamente desesperador de ser mãe começa a se exteriorizar. Ao mesmo tempo, ela precisa enfrentar uma situação complicada em sua família, que passa por dificuldades financeiras enquanto a vida de seu irmão começa a minguar devido à AIDs.

Essa protagonista, de várias formas, nos remete a seu longa anterior, “Atrizes”, premiado no festival de Cannes em 2008, em que Tedeschi interpretava uma personagem parecida e quase com os mesmos problemas. Mais uma vez, a diretora-atriz nos apresenta uma versão honesta do que parece ser um drama muito pessoal. No entanto, dessa vez, parece que faltou uma certa sobriedade.

Isso porque, mesmo com a trama e o fio principal da narrativa sendo perfeitamente identificáveis ao público, o tom melodramático que permeia o filme o torna simplesmente excessivo e descaracterizado dos próprios dramas que quer expôr. Combine a isso o cenário exagerado e os momentos explosivos de cada personagem, e a mistura chega então a causar náusea.

Dá pra entender qual era a combinação pretendida. O castelo suntuoso da família rica, que é o cenário para sua decadência que eles, ao mesmo tempo, pretendem negar, alinhado com a excentricidade de seus indivíduos, em contraste com seus problemas corriqueiros e mundanos. No entanto, as reações geradas disso, imaginadas por Tedeschi, se resumem a explosões teatrais e a diálogos exagerados, que ironicamente agregam uma certa superficialidade no tratamento dos problemas centrais do filme.

É inevitável atribuir a característica teatral do filme ao fato da diretora ser, ela própria, uma atriz. Esse é um filme que empresta a cada ator e a cada personagem seu momento de expressar de forma rasgada e dramática suas tragédia na frente da câmera e que aposta tudo nas interpretações.

Essa aposta foi o que gerou alguns dos excelentes momentos que pontuam o filme ao longo de sua duração. Entre elas a ótima cena do primeiro encontro entre ela e Louis Garrel, logo no início. Mas entre um e outro momentos como esse, somos expostos a um excesso de gritos, choros e explosões emocionais, que chegamos ao ponto de permanecer alheios aos acontecimentos do filmes e, pior ainda, dos próprios personagens que os conduzem.