Heitor Machado | 23 de outubro de 2013

Especial Kick-Ass 2: O mimimi de Jim Carrey

Em junho deste ano, quando começaram a sair os primeiros previews e trailers de KickAss 2, um comentário no Twitter do ator Jim Carrey chocou não só seus fãs, como também os companheiros de elenco. A declaração foi a seguinte: “Eu fiz Kick-Ass há um mês, antes de Sandy Hook, e agora tenho total consciência […]

Em junho deste ano, quando começaram a sair os primeiros previews e trailers de KickAss 2, um comentário no Twitter do ator Jim Carrey chocou não só seus fãs, como também os companheiros de elenco. A declaração foi a seguinte:

“Eu fiz Kick-Ass há um mês, antes de Sandy Hook, e agora tenho total consciência de que não posso aguentar esse nível de violência… minhas desculpas a todos os envolvidos com o filme. Não tenho vergonha dele, mas alguns eventos recentes causaram uma mudança em meu coração.”

Quase todos os companheiros de cena de Carrey discordaram publicamente de suaposição. O ator Donald Faison, conhecido pela participação na série Scrubs, afirmou que “Jim pode ter a opinião que quiser. Estou contente que ele esteja no filme, pois fez um excelente trabalho. Mas o título do filme é “kick-ass”, sabe? Alguma violência já era esperada”, diz. “Eu amo o Jim, ele é um cara ótimo, e pode dizer o que quiser”, disse John Leguizamo, que também contracena com Carrey. “Mas eu não entendo. Quando ele se deu conta de que era violento? Ele não viu o primeiro filme? Não leu o roteiro? Certeza que ele leu. Então não entendo!”, endossa.

A Hit-Girl Chlöe Grace Moretz atacou mais de frente ao veterano do cinema: “É um filme, é tudo encenação, e eu sempre soube disso desde que era criança… não quero sair por aí tentando matar as pessoas. Os filmes podem até ensinar o que não fazer”, disparou.

O diretor, Jeff Wadlow, disse que ficou surpreso, pois nos sets Carrey parecia gostar das cenas, e disse que era fã dos filmes – afinal, aquilo que foi escrito no roteiro é aquilo que sairá nas telas. Enquanto o criador dos comics e roteirista, Mark Millar, disse que a declaração veio a favor do filme, pois “se o seu ator principal diz que o filme é violento demais para ele, é como dizer que um filme pornô tem muita nudez. Então as pessoas pensam ‘tenho que ir ver isso agora!’”

Essa mudança de atitude tem a ver com a política anti-armas que faz parte da vida de Jim Carrey. De acordo com um artigo no Huffington Post, o ator teria toda a razão em demonstrar-se descontente com o projeto, já que o filme tem como base a violência, como pode ser visto no primeiro longa – e que, por sua vez, vem diretamente dos quadrinhos que são, por sinal, muitíssimo mais violentos. O autor do artigo comenta que entende a posição de Carrey quando vê algumas cenas pesadas (uma sobre estupro) e outras escatologias.

Essa discussão levanta a velha questão de se a violência de filmes, quadrinhos, jogos de videogame, entre outros, realmente provocam reações violentas da plateia. Ao meu ver, não. Claro que existem casos de patologias específicas, desencadeadas com a excitação de ver algo extremamente violento – o caso daquele menino que jogava Assassin’s Creed e matou os pais PM’s ou, ainda, aquele cara que cometeu uma chacina na sessão de Clube da Luta são bons exemplos. Há pessoas doentes no mundo, ou jovens demais, que não aguentam a exposição frenética de violência sem considerarem isso real.

Mas a minha própria experiência – e a de quase todo mundo que eu conheço – leva à direção contrária. Parafraseando Moretz, sempre assistimos filmes violentos, e nem por isso saímos por aí matando todo mundo. A crítica de Carrey pode ter sido infeliz, é claro, mas está de acordo com sua filosofia de vida. Talvez sair da divulgação do filme tenha sido um erro estratégico fundamental: ele provavelmente nunca será chamado para fazer um filme com Tarantino.