Cassia Alves | 7 de outubro de 2013

cine sexo: Olhe mais de perto

É possível fazer um filme sobre sexo sem sexo? Jason Reitman fez um sobre a indústria tabagista sem mostrar uma pessoa sequer fumando. O filme em questão é “Obrigado por fumar”, que – a título de curiosidade – tem duas cenas de sexo. Pois bem, o desafio está aí. É possível fazer um filme sobre […]

closer

É possível fazer um filme sobre sexo sem sexo? Jason Reitman fez um sobre a indústria tabagista sem mostrar uma pessoa sequer fumando. O filme em questão é “Obrigado por fumar”, que – a título de curiosidade – tem duas cenas de sexo. Pois bem, o desafio está aí. É possível fazer um filme sobre sexo sem sexo? Não só é possível como há dois que se credenciam entre os melhores sobre o assunto. É bem verdade que “Sexo, mentiras e videotape” (1989), de Steven Soderbergh e “Closer – perto demais” (2004), de Mike Nichols não são essencialmente sobre sexo, mas sobre relacionamentos. Sexo, obviamente, é importante peça nesse tabuleiro da existência.

No primeiro filme, que se consolidou como um dos pilares do cinema independente americano moderno, o personagem principal – vivido por James Spader, tem uma tara em particular: ele só é capaz de atingir o orgasmo ouvindo o relato de mulheres sobre suas experiências sexuais. Ele os grava em fita cassetes depois de seduzi-las para se abrirem, nesse sentido pouco convencional, para ele. Sua chegada ao ambiente do casal vivido por Peter Gallagher e Andie MacDowell é desestabilizadora. O marido é infiel. A esposa desconfia, mas não faz nada para sair de sua bolha de comodidade e insatisfação sexual. Soderbergh vai revelando camadas desses três personagens com habilidade e coloca o sexo na ordem do dia, ainda que não se faça sexo em seu filme. Ele revela como o sexo ocupa parte proeminente em nossas vidas. Pratique-se ou não. Essa liberdade no trato e no aprofundamento da questão faz de Sexo, mentiras e videotape o grande filme a falar de sexo, a ser sexual, sem, digamos, sensualizar para atingir seus fins.

“Closer – perto demais” é mais cru. Não que seja menos insidioso dessa análise despudorada que faz do sexo como elemento proeminente em nossas existências. Apenas o faz com mais gravidade, mais ruído nas digressões psicológicas que estabelece. Aqui são quatro os protagonistas em uma ciranda amorosa cheia de idas e vindas. Regada a amores perdidos e muito sexo. Sempre falado, rememorado, simulado, mas nunca propriamente feito. Se é um artifício consciente da realização nos cabe especular, mas funciona muito bem. Desde o momento em que dois personagens desandam a falar sacanagens em uma sala de bate-papo online, até o mais honesto dos diálogos em meio a um strip-tease. “Closer – perto demais” é pungente e certamente brilha por todos os seus outros predicados enquanto cinema, mas faz valer a menção aqui como um dos filmes que melhor enquadra a compulsão humana por sexo. Sem botar o ato sexual na tela.