Jaqueline Oliveira | 30 de setembro de 2013

Senta que lá vem… “Olga”

  Na última sexta, estreou “O Tempo e o Vento”, adaptação para o cinema da clássica obra literária de Érico Veríssimo. A saga sobre a criação do Rio Grande do Sul chega às telonas pelas mãos de Jayme Monjardim, famoso diretor de novelas como “Pantanal”, de 1990, e “O Clone”, de 2001. Ainda não consegui […]

 Olga

Na última sexta, estreou “O Tempo e o Vento”, adaptação para o cinema da clássica obra literária de Érico Veríssimo. A saga sobre a criação do Rio Grande do Sul chega às telonas pelas mãos de Jayme Monjardim, famoso diretor de novelas como “Pantanal”, de 1990, e “O Clone”, de 2001. Ainda não consegui ver o filme, mas pelas críticas que pipocam na imprensa parece que ida de Monjardim para a tela grande ainda não foi tão bem sucedida. Isso porque ele ainda leva para a sétimas arte muitos vícios que incorporou nos 30 anos trabalhando na TV. E nem precisa assistir ao novo filme para saber disso. É só dar olha mais atenta à sequência inicial de “Olga”, sua estreia no cinema em 2004.

O filme conta a história da militante comunista alemã Olga Benário, que nos anos 1930 foi enviada ao Brasil para proteger o revolucionário Luís Carlos Prestes e, junto com ele, liderar um golpe comunista em plena ditadura Vargas. Os dois se apaixonam e ela engravida, só que o governo brasileiro prende a militante e a deporta para a Alemanha. De origem judia, Olga dá a luz na prisão e depois é enviada para um campo de concentração, onde é morta pelos nazistas.

Somente por esse resumo do roteiro fica nítido seu caráter heroico. Pra conseguir passar por tudo isso, só sendo uma heroína clássica! Então a abertura de “Olga” não poupa esforços para desde o começo construir a protagonista como uma mocinha melodramática com tendência a mártir. Somente nos primeiros 10 minutos, ela não tem medo de pular uma fogueira quando criança, renega a riqueza da família, invade um tribunal para libertar o namorado que está em julgamento, deixa claro que coloca a revolução acima da felicidade pessoal, enfrenta a polícia em uma manifestação… Ou seja, pouco a pouco se desenha uma mulher inabalável, ousada, lutadora, idealista, determinada, tudo de acordo com a cartilha folhetinesca.

Na construção da narrativa, também surgem vários recursos usados à exaustão nas novelas. Quando a protagonista está pensativa, uma narração em off conta seus pensamentos para a gente. Embora a história se passe na Alemanha, todas as pessoas falam português como se fosse sua língua nativa. Não há sequer um sotaque alemão que dê mais de verossimilhança à ambientação. Além disso, os atores sempre aparecem em close nos diálogos e quase todas as cenas da sequência inicial possuem uma trilha sonora para dar o tom da cena.

São elementos que em geral passam despercebidos para muitos espectadores, até por causa do nosso costume com a estética televisiva. Narrativamente, eles não mudam em nada a história, mas acabam criando um produto que fica aquém do potencial cinematográfico. Com uma tela grande como a do cinema, as imagens poderiam deixar de focar apenas nos rostos para valorizar enquadramentos mais abertos, mostrar a riqueza dos cenários e usar movimentos de câmera para criar sensações. Uma vez que na sala escura o espectador tem toda sua atenção voltada para o filme, também não há necessidade de se pontuar cada cena com uma trilha sonora que diz se ela é romântica ou tensa. Essa é uma tática de redundância usada na TV pra capturar nossa atenção dentre as mil coisas que fazemos ao mesmo tempo enquanto o aparelho fica ligado.

Olga

Com seus 30 anos de experiência em audiovisual, com certeza Jayme Monjardim sabe desses detalhes melhor do que eu. Ou deveria saber. Fica a pergunta: ele leva essas características para o cinema por hábito ou de propósito, justamente para agradar o público das novelas? Se um dia eu entrevistá-lo, com certeza é um questionamento que eu vou adorar fazer.