Convidados | 3 de agosto de 2013

Ingmar Bergman

O que os diretores Woody Allen, Francis Ford Coppola, Stanley Kubrick, Ang Lee, Martin Scorsese, Steven Spielberg e Andrei Tarkovsky tem em comum? Com certeza não é o estilo; todos eles nutrem (ou nutriam) grande admiração por um mesmo homem: Ernst Ingmar Bergman. Allen, por exemplo, disse certa vez que Bergman é provavelmente o maior […]

O que os diretores Woody Allen, Francis Ford Coppola, Stanley Kubrick, Ang Lee, Martin Scorsese, Steven Spielberg e Andrei Tarkovsky tem em comum? Com certeza não é o estilo; todos eles nutrem (ou nutriam) grande admiração por um mesmo homem: Ernst Ingmar Bergman. Allen, por exemplo, disse certa vez que Bergman é provavelmente o maior cineasta desde a invenção da câmera cinematográfica. Sua admiração é tanta que dedicou um de seus filmes, a comédia “A Última Noite de Boris Grushenko” (Love and Death, 1975), a uma das produções de Bergman, “O Sétimo Selo” (Det sjunde inseglet, 1957).

Ingmar Bergman nasceu na Suécia em 1918 e teve uma infância traumática. Foi criado de maneira autoritária por um pai que era pastor luterano, sob valores como o castigo, o perdão e o pecado. Por vezes, quando fazia algo de errado, era humilhado ou espancado pelo pai, como uma maneira de punição. Essas lembranças serviram de bagagem para boa parte das temáticas de seus filmes, que geralmente tratam de questões relacionadas à morte, solidão, fé, impossibilidade da comunicação e sexualidade. Fanny e Alexandre (Fanny Och Alexander, 1982), último filme que fez para o cinema e uma de suas produções que faturou o Oscar de melhor língua estrangeira (Bergman faturou três Oscar nessa categoria ao longo de sua carreira), é espelhado na própria história de sua vida. Os personagens que dão nome ao filme são irmãos, de 8 e 10 anos, respectivamente, que são mental e fisicamente abusados pelo padastro, um bispo da cidade.

Antes de ingressar no cinema, Bergman frequentou a Universidade de Estolcomo, onde estudou arte e literatura, escreveu e dirigiu inúmeras peças – no teatro, seu envolvimento foi tanto que, ao longo da vida, tornou-se diretor do Teatro Municipal de Goteborg, do Teatro de Malmoe e do Teatro Dramático Real, o mais importante da Suécia. O primeiro marco cinematográfico de sua carreira foi como roteirista e assistente de direção do filme Tortura (Hets, 1944), de Alf Sjöberg. No ano seguinte, dirigiu seu primeiro filme, Crise (Kris, 1945), e desde então não parou mais.

Até 1982, sua produção no cinema foi praticamente anual e um fato interessante em seus filmes é que Bergman trabalhava com um elenco que se repetia, sendo os principais elementos Liv Ullmann, que atuou em dez de seus longas, Harriet Andersson, Max Von Sydow, Ingrid Thulin, Gunnar Bjornstrand e Erland Josephson. A afinidade chegou a ser tanta que nas últimas produções Bergman deixava os atores improvisarem os diálogos exatos e escrevia apenas ideias a respeito da cena. O mesmo aconteceu na relação com o diretor de fotografia Sven Nykvis. Eles se entendiam tanto no trabalho que Bergman não se preocupava com a composição da cena até o dia anterior a filmagem. No dia, ele falava rapidamente com Kykvist sobre o que esperava e deixava-o trabalhando sem praticamente interferir.

Na vida pessoal, o sueco casou-se cinco vezes e teve relações com atrizes com quem trabalhou, sendo elas Harriet Andersson, Bibi Andersson e Liv Ullmann. O relacionamento com a última, que de uma forma ou outra se estendeu por 42 anos, deu origem ao documentário Liv & Ingmar – Uma História de Amor (Liv og Ingmar, 2012), exibido no ano passado na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Entre seus filmes mais marcantes estão Sorrisos de uma Noite de Amor (Sommarnattens leende, 1955), produção que fez com que o cineasta adquirisse notoriedade mundo afora, Quando Duas Mulheres Pecam (Persona, 1966), que marca a estréia de Liv Ullmann na filmografia de Bergman, A Fonte da Donzela (Jungfrukällan, 1959), Através de um Espelho (Såsom i en spegel, 1961) – que são os outros dois filmes que faturaram o Oscar de melhor filme em língua estrangeira -, Gritos e Sussuros (Viskningar och rop, 1972), Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, 1963) – considerados pelo próprio diretor, juntamente com Quando Duas Mulheres Pecam, os seus melhores trabalhos – e Saraband, seu último filme, produzido para televisão.