Reinaldo Glioche | 30 de julho de 2013

made for tv: Behind the Candelabra

Vocês conseguem imaginar um filme que estreou no Festival de Cannes, e concorreu à Palma de Ouro, estreando na HBO? Pois aconteceu esse ano. Behind the Candelabra não foi lançado nos cinemas americanos, somente nos europeus. O motivo, segundo o próprio diretor é que Hollywood considerou o filme “muito gay”, mesmo que tenha sido produzido depois de Brokeback […]

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Vocês conseguem imaginar um filme que estreou no Festival de Cannes, e concorreu à Palma de Ouro, estreando na HBO? Pois aconteceu esse ano. Behind the Candelabra não foi lançado nos cinemas americanos, somente nos europeus. O motivo, segundo o próprio diretor é que Hollywood considerou o filme “muito gay”, mesmo que tenha sido produzido depois de Brokeback Mountain. A maior indústria de entretenimento do mundo não lançar um filme porque é “muito gay”. Ah vá…

De qualquer forma a HBO teve a coragem que os grandes estúdios não tiveram. Bancou a produção, estimada em alguns milhões de dólares. Apesar do filme ter tido uma longa pré produção, Matt Damon e Michael Douglas não deixaram o projeto, levando-o até o final. E, apesar do roteirista Richard LaGravanese não ser exatamente um gênio, ele é muito competente nos seus roteiros, o que tornou Behind the Candelabra um ótimo filme. Soderbergh também se mostra um excelente diretor – talvez porque insistiu por tanto tempo no projeto, já que vez ou outra ele realiza algo realmente descartável, como Full Frontal.

De qualquer forma, o grande destaque do filme ainda são os dois atores. Entre eles, há uma química excelente, e Michael Douglas convence o espectador de ser uma grande queen, apesar de sabermos da origem do seu câncer de garganta. Já Matt Damon ganha menos destaque, mas tem seus grandes momentos. Não há grandes surpresas na história – o filme é baseado na autobiografia do personagem de Damon, Scott Thorson. Scott viveu com Liberace durante alguns anos, o famoso pianista que morreu de complicações com o virus da AIDS em 1987.

Liberace era notoriamente gay, mesmo tendo vencido alguns processos judiciais sobre jornais que o acusavam de sê-lo. Na época, ser gay era uma condição inaceitável, ainda mais para alguém tão vaidoso e narcissistico como Liberace, que bancou uma cirurgia plástica para o jovem Scott ficar parecido com ele(!). Vivia de forma suntuosa. Ostentava os melhores carros, jóias, casacos de pele e figurinos decorados com cristais. Se cercava de homossexuais, tendo sempre um boytoy para si, enquanto seu assessor de imprensa se esforçava para parecer que ele ainda não havia encontrado a mulher ideal.

O mais interessante do filme é seu recorte histórico. Hoje, mais de 20 anos após da morte do pianista, os homossexuais já adquiriram direitos que nem se pensava naquela época. Por exemplo, Liberace decide adotar Scott legalmente, a fim de dar alguma segurança para ele. Hoje eles poderiam ter simplesmente se casado, ali em Las Vegas mesmo. Liberace não lidava bem com o fato de ser gay, sendo ele mesmo um pouco homofóbico. Entre os altos e baixos do casal, vemos um Scott que gosta, mas gosta mais da vida que leva, com drogas e luxo, e um Liberace que gosta de Scott, mas gosta ainda mais de fazer sexo com quem quer que ele escolha.

Behind the Candelabra não é tão gay quanto parece e quanto os altos executivos de Hollywood julgaram. Se o filme por acaso se parece tão gay assim é porque o próprio Liberace o era, se cobrindo de anéis e peles. O filme é até mesmo econômico em algumas cenas, poupando cenas desnecessárias com drogas, por exemplo, e até mesmo nas demonstraçòes de afeto entre o casal. E como o próprio diretor o comparou ao já clássico Brokeback Mountain, o filme não carrega um terço do drama que o outro carrega. Chega a ser divertido. Ainda que como a maioria dos filmes LGBTs ele termine com uma morte. Mas tudo bem, afinal, a própria vida é assim.