Andre Pacheco | 26 de julho de 2013

cine brasil: o cinema de Breno Silveira

O diretor Breno Silveira apresenta um trabalho de direção muito bom. Seus filmes possuem uma estética belíssima, uma produção requintada e uma fotografia incomum no cinema brasileiro. Antes de ser um diretor já renomado, Breno foi um grande diretor de fotografia. Filmes como “Carlota Joaquina” (1995), “Gêmeas” (1999), “Eu Tu Eles” (2000) possuem uma direção […]

O diretor Breno Silveira apresenta um trabalho de direção muito bom. Seus filmes possuem uma estética belíssima, uma produção requintada e uma fotografia incomum no cinema brasileiro. Antes de ser um diretor já renomado, Breno foi um grande diretor de fotografia. Filmes como “Carlota Joaquina” (1995), “Gêmeas” (1999), “Eu Tu Eles” (2000) possuem uma direção de fotografia estonteante, no mínimo.

Mas em sua carreira, o que se destaca mesmo é a sua grande obra “Dois Filhos De Francisco” (2005). Obra essa que falarei em uma outra oportunidade.

O que essa coluna disserta é sobre um filme de Breno Silveira que merece várias discussões. “À Beira Do Caminho” (2012) é um road movie sentimental. O filme trata da vida de João (João Miguel) que foge do seu passado traumático correndo o Brasil com seu caminhão. Durante uma de suas paradas, encontra um menino escondido na carroceria chamado Duda (Vinicius Nascimento), que perdeu a mãe e está à procura de seu pai que vivem São Paulo. Assim, João e Duda vão rodar pelas estradas até chegar a São Paulo.

O que mais chama atenção nesse filme é a impressão de algo banal. Espera-se, desde o começo, uma história corrida, conhecida. Os dois personagens se estranharão, se conhecerão e, logo, irão criar amor um pelo outro. Cada qual com seu problema.

Como é de se esperar, o filme possui uma fotografia linda, poética, bucólica e introspectiva. O que realça ainda mais o roteiro e o estilo road movie com as dores do menino sem família e o motorista que se martiriza com seu passado.

As atuações em destaque ficam com a sempre competente e magnífica Dirá Paes como “Rosa” e o menino Vinicius Nascimento como “Duda”.  Algumas cenas beiram o sentimentalismo exagerado. Porém o principal destaque do filme, junto de sua fotografia, é o ator Vinicius Nascimento.

Uma encenação cativante. Suas falas são contidas, entretanto causam uma relativização emocional realizando um paralelo na importância do que é a dor. Aqui não há medidas. Tanto o motorista quanto o garoto possuem dores, sem tamanhos, sem diferenças. Dores que a vida causa. E isso é algo incomum no cinema brasileiro. E mesmo que o roteiro seja previsível, onde o final praticamente todo mundo fica imaginando acontecer, algo não se perde. Marca.

O filme usa flashbacks para “evoluir” nos problemas do passado do personagem João, que no final, acaba por se redimir. Eu diria que ficou um pouco incomodo tal final por se tratar de um problema tão grande e de uma fuga, propriamente. Mas não se deve entrar em juízo de valor. Problemas são problemas, e cada um lida de uma forma diferente. Isso é a vida…

Quem tem “Central Do Brasil” (1998) em sua mente, terá um filme parecido e de menor valor. Verás também um filme que usa das músicas de Roberto Carlos para um abuso de sentimentos exacerbado. Perceberá de uma forma lógica, que a estrada é um clichê para a fuga dos nossos problemas. E poderá observar, principalmente, que nem sempre o básico, uma fórmula (no caso o sentimento de pessoas simples, usado perfeitamente em “Dois Filhos De Francisco”) resulta em algo acima da média.

O que deve ficar com essa obra é algo poético. A sensibilidade do contar uma história pelo cinema é, também, a sensibilidade de se usar vários caminhos e métodos para algo belo. Fotografia, atuações, roteiro, direção de atores… Breno Silveira não é um mestre. Pelo menos fora da fotografia. Mas possui uma mão boa para produções que zelam pela sensibilidade da vida. Algo assim, hoje em dia no cinema brasileiro, está em extinção.