Ricardo F. Santos | 10 de julho de 2013

Homem de Aço | Crítica

Sem dúvida o mais icônico super-herói de todos os tempos, Superman é uma figura complicada de ser trabalhada nos cinemas. Sua invulnerabilidade é um fator decisivo para o afastamento emocional do personagem com o público (vide o Batman, cuja persona é mais identificável pelo fato de Bruce Wayne ser apenas um humano), e foi justamente […]

Homem-de-aço

Sem dúvida o mais icônico super-herói de todos os tempos, Superman é uma figura complicada de ser trabalhada nos cinemas. Sua invulnerabilidade é um fator decisivo para o afastamento emocional do personagem com o público (vide o Batman, cuja persona é mais identificável pelo fato de Bruce Wayne ser apenas um humano), e foi justamente esse ponto que Zack Snyder buscou corrigir com O Homem de Aço: o lado “humano” do herói.

A trama é roteirizada por David Goyer, a partir de um argumento elaborado por este e o diretor Christopher Nolan, retomando a origem do Superman (Henry Cavill) desde a partida de seu planeta condenado Krypton até a chegada na Terra. Enquanto aprende a controlar seus poderes e descobrir mais sobre seu passado, é perseguido pela determinada jornalista Lois Lane (Amy Adams) e pelo implacável general Zod (Michael Shannon), um remanescente de sua espécie que traz a promessa de destruição ao planeta.

É irônico que este novo filme concentre-se no lado mais emocional do Superman – e proponha uma abordagem mais realista quanto à sua posição na sociedade – ao mesmo tempo em que abrace pesadas doses de ficção científica. Goyer explora a fundo a mitologia de Krypton (e o design de produção de Alex McDowell impressiona pelo visual dark e com claras influências de H.R. Giger) e oferece um intrigante clima alienígena ao herói, Zod e seus comparsas: a cena em que o militar promove uma transmissão mundial afirmando que os humanos “não estão sozinhos” funciona espantosamente bem por remeter a grandes longas que tratam sobre invasões extraterrestres. Nesse sentido, a fotografia do iraniano Amir Mokri aposta em uma coloração predominantemente fria e repleta de elegantes luzes em flare (essa foi pra você, JJ Abrams), enquanto o diretor Zack Snyder deixa de lado o slow motion e adota a técnica de câmera-na-mão durante toda a projeção – uma decisão que afeta de maneira positiva as espetaculares cenas de ação do filme.

Snyder e Goyer acertam também na estrutura escolhida para contar a origem do herói. Ainda que o constante uso de flashbacks quebre a linearidade esperada de um filme de apresentações, serve como uma eficiente forma de narrar o desenvolvimento de Clark sem se limitar a refazer o original de 1978 (como foi o grande problema de O Espetacular Homem-Aranha, prejudicado pelas gritantes semelhanças com a trilogia de Sam Raimi) e ao posicionar cada volta no tempo em pontos-chave da narrativa. Merece aplausos o trabalho do montador David Brenner, que proporciona ritmo ao filme e elabora transições de cena criativas que até servem para criar humor: o momento em que os militares avistam as naves alienígenas com seus satélites é logo seguido por um painel que traz um ameaçador alerta de “Emergência”, apenas para revelar-se uma inofensiva impressora pedindo por cartuchos de tinta.

O que nos leva ao protagonista Henry Cavill. Mais conhecido por sua participação na série de TV The Tudors, o ator inglês faz um ótimo trabalho ao criar um Superman “em fase de gestação”, cheio de dúvidas e ainda longe de tornar-se a figura bondosa e politicamente incorreta pelo qual é conhecido (aqui, Clark até usa suas habilidades para vingar-se de um estranho) e por carecer de um senso de responsabilidade por suas ações; já que praticamente destrói toda a cidade em suas batalhas épicas. Vale apontar também a competência de Russell Crowe e Kevin Costner no papel das figuras paternas de Clark e como Amy Adams e Diane Lane criam mulheres fortes (ainda que a performance de Adams já fosse o bastante, tornando desnecessário que a jornalista pegasse em armas) e protetoras. Para fechar, Michael Shannon faz um vilão memorável ao acrescentar motivos reais para as ações de seu Zod; mesmo que seu plano seja uma cópia descarada do de Sentinel Prime em – sim, que vergonha – Transformers: O Lado Oculto da Lua.

O Homem de Aço oferece uma interessante reinvenção para o Superman. Não chega à altura do trabalho realizado por Christopher Nolan em sua trilogia do Cavaleiro das Trevas, mas representa um grande passo da DC Comics nos cinemas e reacende a franquia de um personagem que simplesmente não pode cair no esquecimento. Que venha mais!

Obs.: Fãs hardcore da DC, atenção: há diversos easter eggs ao longo da projeção, seja de um certo vilão careca ou de uma tal de empresas Wayne.

Obs. II: O 3D convertido do filme não cheira nem fede.