Jaqueline Oliveira | 25 de junho de 2013

Especial Monstros – Como as continuações vão mudar a cara da Pixar

Desde que estreou com “Toy Story”, em 1995, a Pixar construiu uma redoma de admiração. Além da qualidade técnica das animações, que não se comparavam a nada que os concorrentes faziam naquele momento, o estúdio sempre mereceu destaque e reconhecimento pela qualidade dos roteiros que produzia. Histórias de uma inteligência tão grande que conseguiam divertir […]

Desde que estreou com “Toy Story”, em 1995, a Pixar construiu uma redoma de admiração. Além da qualidade técnica das animações, que não se comparavam a nada que os concorrentes faziam naquele momento, o estúdio sempre mereceu destaque e reconhecimento pela qualidade dos roteiros que produzia. Histórias de uma inteligência tão grande que conseguiam divertir as crianças e ao mesmo tempo emocionar os adultos. Nos últimos anos, no entanto, uma nova realidade começou a dar as caras: se antes a preferência era por histórias originais, a partir de 2010 as continuações ganharam força na Pixar. Uma alteração que indica que os rumos da empresa vão mudar definitivamente nos próximos anos.

Não que sequências sejam uma novidade para o estúdio. Afinal, o próprio “Toy Story” ganhou uma em 1999 e outra em 2010. No entanto, ao longo de 15 anos, a turma de brinquedos foi a única exceção no portfólio da Pixar. Dos 11 filmes lançados entre 1995 e 2010, apenas dois são continuações. E ainda assim são trabalhos tão cuidadosos e caprichados que “Toy Story 2” é apontado por muitos cinéfilos como o melhor da trilogia e dá de lavada em outros filmes originais, como “Carros”.

No entanto, a segunda década dos anos 2000 trouxe uma mudança de paradigma. Dos três filmes lançados entre 2011 e 2013, dois são continuações: “Carros 2” e agora “Universidade Monstros”. Uma tendência que deve continuar nos próximos anos, pois a Disney (que comprou a Pixar em 2006) já anunciou para 2015 a sequência de “Procurando Nemo”. No embalo, Brad Bird, de “Os Incríveis”, declarou que pensa em continuar a história da família de super-heróis e Mark Andrews, o homem por trás de “Valente”, também disse que quer um novo filme da princesa Merida. Somados ainda à declaração do presidente da Disney de que nos próximos cinco anos eles vão “continuar investindo em histórias originais e em grandes sequências” (assim mesmo, no plural), é de se esperar que grande parte das histórias ganhem novos desdobramentos.

Mas o que isso muda? Muita coisa. Para a Pixar, a qualidade da história sempre foi tão importante quanto o sucesso de bilheteria e muitas vezes este sucesso era uma simples consequência da qualidade. O que mais chama atenção nas novas continuações, no entanto, é que elas soam extremamente gratuitas. “Carros”, por exemplo, já é um filme original tão fraco que não precisava de uma sequência. “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”, por outro lado, são filmes incríveis, mas com um final muito claro. Por isso, os novos projetos levam a crer que o mais importante agora não é a continuidade da história e o desenvolvimento dos personagens, mas sim a busca por dinheiro. Uma mudança de rumos na Pixar que tem tudo a ver com o jeito que a Disney conduz suas empresas.

É só olhar, por exemplo, para a Marvel, outra empresa que o estúdio do Mickey comprou. A gigante dos quadrinhos criou uma verdadeira avalanche de filmes de super-heróis e construiu os personagens de forma que eles rendam novas histórias sempre, nem que para isso precisem juntar todos em um só filme (como em “Os Vingadores”) ou recomeçar a história com um novo elenco (taí “O Espetacular Homem Aranha”). E por que isso? Porque agora os personagens são estrelas multiplataforma. Além do cinema e dos quadrinhos, os heróis têm atrações temáticas na Disney World e são fonte inesgotável de produtos licenciados. Logo, precisam estar sempre em evidência. A partir do momento em que entraram para o universo Disney, Capitão América, Homem de Ferro, Nemo, Buzz Lightyear e todos os personagens da Pixar se tornaram grandes geradores de renda, com público fiel e cativo. Um potencial de lucro que qualquer empresa comercial do mundo exploraria até a última gota.

A curto prazo, os novos anúncios geraram tanto felicidade nos fãs quanto preocupação nos críticos. Além de uma necessidade empresarial, será que as continuações são um sinal de que a Pixar está passando por uma crise criativa? É uma questão que só o tempo vai responder.