Jaqueline Oliveira | 3 de junho de 2013

Faroeste Caboclo | Crítica

Toda vez que uma adaptação chega aos cinemas, a primeira preocupação dos fãs do material original é sempre a mesma: será que a película é fiel à obra? Um receio que parece inexistente para uma música que virou filme. Afinal, se uma canção tem em média três minutos, é impossível que uma produção de duas […]

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Toda vez que uma adaptação chega aos cinemas, a primeira preocupação dos fãs do material original é sempre a mesma: será que a película é fiel à obra? Um receio que parece inexistente para uma música que virou filme. Afinal, se uma canção tem em média três minutos, é impossível que uma produção de duas horas não dê conta de tudo. No caso de “Faroeste Caboclo”, se em nove minutos Renato Russo contou a história de João de Santo Cristo, um filme deve inclusive ir até além do material original. Certo? Mais ou menos.

Em relação à história, não há grandes surpresas. O filme acompanha a epopeia do jovem João, que se muda pra Brasília em busca de uma nova vida. Para se manter, ele começa a trabalhar para o primo Pablo, um traficante. É na fuga após uma entrega de drogas frustrada pela polícia que ele conhece Maria Lúcia, filha de um senador. Aos poucos, eles engatam um relacionamento, mas logo João entra em confronto com um traficante da classe alta, Jeremias. Uma disputa pelo mercado de drogas que terá graves consequências para os três. (se quiser saber mais que isso, é só reservar dez minutos da sua vida e clicar aqui).

Do ponto de vista narrativo, o filme é totalmente fiel à obra do Legião Urbana, uma característica que pode ser benéfica ou não. Se você for fã da banda, com certeza não vai se incomodar com a previsibilidade da história, uma vez que os fatos principais estão todos lá. No entanto, se não for fã, mas tiver ouvido a música pelo menos uma vez na vida, vai saber a história do começo ao fim desde o início da projeção, algo que traz uma série de problemas para o filme. Afinal, como manter o público ligado na história se ele conhece todos os passos dos personagens? Como emocionar com situações que se desgastaram tanto pela repetição? E como criar suspense sobre desdobramentos para os quais sabemos a solução? Uma série de respostas que o diretor René Sampaio não soube responder e que tornam “Faroeste Caboclo” tedioso do meio para o final.

Já do ponto de vista cinematográfico, “Faroeste Caboclo” é um bom filme. Conduzido como uma mistura western e filme de máfia, a saga de João de Santo Cristo ganha corpo e força justamente por trazer o clima irremediável do primeiro e o jogo de gato e rato do segundo. Somados à Brasília inóspita dos anos 70 e 80, são traços que criam uma atmosfera extremamente dramática e trágica.

Mesmo com um material original tão rico em referências visuais, o diretor conseguiu encontrar um equilíbrio entre a transposição dessas imagens para a tela e a criação de novas e belas interpretações. Com isto, muitas “cenas” narradas na música ficam de fora, o que com certeza vai desagradar aos fãs que esperam que o filme seja um longo videoclipe literal. 

No entanto, por mais poéticas e criativas que sejam muitas passagens do filme, o clima morno que costura “Faroeste Caboclo” deixa no espectador a impressão de que faltou alguma coisa. Talvez seja o grande defeito da adaptação em relação à música: não ter um clímax forte que crie a sensação de que o filme valeu o ingresso.