Ricardo F. Santos | 18 de maio de 2013

Terapia de Risco | Crítica

Steven Soderbergh é um artista multifacetado. Não assisti a todos os seus filmes, mas uma rápida olhada em sua página do IMDB comprova sua admirável versatilidade em gêneros (golpistas, traficantes, agentes secretas e até o Che Guevara já foram capturados por suas lentes) e funções cinematográficas, atuando – além da direção – nos departamentos de […]

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Steven Soderbergh é um artista multifacetado. Não assisti a todos os seus filmes, mas uma rápida olhada em sua página do IMDB comprova sua admirável versatilidade em gêneros (golpistas, traficantes, agentes secretas e até o Che Guevara já foram capturados por suas lentes) e funções cinematográficas, atuando – além da direção – nos departamentos de fotografia e montagem. Tido como sua última produção para o cinema, Terapia de Risco reúne com eficiência diversos de seus traços autorais, mas falha ao oferecer uma bizarra combinação temática.

Roteirizada por Scott Z. Burns (que assinou o ótimo Contágio, também de Soderbergh), a trama tem início quando Emily (Rooney Mara, a nova garota do dragão tatuado) recebe seu marido (Channing Tatum) recém-libertado da prisão. Sofrendo com uma repentina depressão após sua chegada, a jovem é aconselhada pelo Dr. Jonathan Burns (Jude Law) a experimentar um novo tipo de medicamento a fim de reverter sua situação – que é exacerbada com frequentes tentativas de suicídio. Daí vêm os “side effects” do título original, mas há muito mais do que parece.

Da mesma forma como abrangeu com maestria os estágios e desdobramentos de uma epidemia global em Contágio, o roteiro de Burns é hábil ao nos situar no mundo da psicofarmacologia. O texto é repleto de termos médicos, rápidas “curiosidades” sobre a área e ainda oferece uma curta (e eficaz) reflexão a respeito do papel midiático na venda de remédios (“Deveria funcionar, as pessoas sempre estão felizes nos anúncios”, constata uma das personagens ao se deparar com a falta de resultados de seu tratamento) e suas diversas consequências aos pacientes e médicos. Características que Soderbergh retrata brilhantemente através de planos criativos, lentes de desfoque e uma fotografia predominantemente fria e obscura; alternando também a intensidade de seus movimentos de câmera, que são mais “câmera-na-mão” quando a trama alcança territórios inesperados.

E é nesse ponto que encontramos os problemas de Terapia de Risco. Após uma surpreendente reviravolta (que não irei revelar a fim de preservar as surpresas), o longa começa a evoluir para algo completamente diferente e, quando equiparado com a progressão do primeiro ato, incompatível. Mesmo que as escandalosas descobertas feitas pelo personagem de Jude Law sejam intrigantes, quem se beneficia dessa brusca mudança de ritmo imposta pela narrativa é Rooney Mara. Frágil como uma boneca de vidro em suas primeiras cenas, a atriz evidencia novamente seu imenso talento ao apresentar um caráter inesperado a sua Emily; mesmo que traga uma estranhíssima relação com a terapeuta vivida por Catherine Zeta-Jones.

Como a carreira de seu diretor, Terapia de Risco é um longa repleto de fases e surpresas. Mesmo que as várias camadas de sua trama percam-se na implausibilidade, é uma conclusão (será?) eficaz para uma carreira tão variada.

Obs: “Terapia de Risco”, sério?