Ricardo F. Santos | 6 de maio de 2013

Em Transe | Crítica

Sou fascinado pela complexidade da mente humana e as incríveis funções do cérebro. Também nunca recusei um bom filme de heist (assalto). Então, após o diretor Christopher Nolan juntar os dois temas com maestria em A Origem, fiquei empolgado com a imersão de Danny Boyle em Em Transe, longa que compartilha de uma premissa similar […]

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Sou fascinado pela complexidade da mente humana e as incríveis funções do cérebro. Também nunca recusei um bom filme de heist (assalto). Então, após o diretor Christopher Nolan juntar os dois temas com maestria em A Origem, fiquei empolgado com a imersão de Danny Boyle em Em Transe, longa que compartilha de uma premissa similar mas que falha por ultrapassar a linha entre o “absurdamente bom” e o “absurdamente… absurdo”.

A trama gira em torno de um roubo a uma casa de leilões londrina. O bando liderado por Franck (Vincent Cassel) consegue com êxito roubar uma preciosa pintura, mas encontra um desafio ainda maior quando Simon (James McAvoy), o leiloeiro responsável pelo trabalho interno, recebe uma pancada na cabeça e esquece o paradeiro do quadro. Certo de que o sujeito não faz jogo duplo, Franck contrata a terapeuta Elizabeth (Rosario Dawson) para submeter Simon a sessões de hipnose, visando ajudá-lo a se lembrar de tudo.

É uma premissa sedutora para qualquer cineasta. Dono de um estilo autoral invejável, Danny Boyle fornece ao longa um visual arrebatador, dando ao diretor de fotografia Anthony Dod Mantle a possibilidade de “brincar” e experimentar diversas paletas de cores e iluminações distintas – dentre as quais se destaca a contraluz, utilizada com frequência. Boyle também é criativo ao oferecer diversos enquadramentos que capturam a estranheza de situações e ambientes, seja pela posição da câmera (que constantemente opta pelo “ângulo holandês, inclinado) ou pelas diferentes lentes escolhidas, alcançando um resultado onírico que se assemelha muito com seu trabalho em Trainspotting.

Mas se Em Transe é visualmente estimulante, também se revela uma narrativa desequilibrada e cheia de furos. O roteiro de Joe Ahearne e John Hodge (que já havia sido adaptado em 2001 para a televisão) é hábil em fornecer enigmas e questionamentos para o espectador – especialmente por iniciar o longa na “metade” da história – e preencher seus personagens com atitudes capciosas.  No entanto, é decepcionante ao buscar explicações absurdas para os mistérios do longa, principalmente pelo implausível arco da Elizabeth de Rosario Dawson (exibindo corajosamente seu corpo em momentos-chave) e das demais reviravoltas que não fazem sentido dentro da trama. É difícil falar sobre suas falhas sem entregar spoilers, mas basta dizer que o longa se perde na tentativa de gerar ambiguidade.

Com uma trilha sonora agitadíssima assinada por Rick Smith, Em Transe é cativante em sua premissa e trabalho visual, mas são elementos desperdiçados por uma narrativa bagunçada e desestruturada. É daqueles filmes pra se ver com muita atenção, pois dessa forma será possível enxergar todos os furos de seu roteiro