Jaqueline Oliveira | 23 de abril de 2013

Um Porto Seguro | Crítica

Há anos, o romance hollywoodiano está no limbo. Empacou em um estágio de previsibilidade em que sabemos que a mocinha e o mocinho sempre ficarão juntos no final. Às vezes, boas produções se destacam, não por inovar na estrutura, mas pela criatividade dos caminhos que levam ao final predestinado. Infelizmente, não é o caso de […]

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Há anos, o romance hollywoodiano está no limbo. Empacou em um estágio de previsibilidade em que sabemos que a mocinha e o mocinho sempre ficarão juntos no final. Às vezes, boas produções se destacam, não por inovar na estrutura, mas pela criatividade dos caminhos que levam ao final predestinado. Infelizmente, não é o caso de “Um Porto Seguro”, adaptação do livro do escritor bestseller Nicholas Sparks.

No filme, acompanhamos a jovem Katie, que foge de seu passado em busca de um recomeço. Sem rumo, ela chega a Southport, uma cidadezinha litorânea que é um verdadeiro paraíso natural, onde resolve reconstruir a vida. Trabalhando como garçonete, ela logo se afeiçoa a Alex, um viúvo com dois filhos pequenos e dono de uma loja de conveniência. Aos poucos, os dois se apaixonam, enquanto um policial caça a garota até localizar seu paradeiro.

Existem duas formas de analisar um filme como “Um Porto Seguro”: avaliar sua fidelidade ao livro que lhe deu origem ou simplesmente sua qualidade enquanto obra cinematográfica. Como não li o livro de Nicholas Sparks, só me resta a segunda opção. Uma pena, pois fica difícil saber se os problemas da narrativa já vinham do livro ou foram criados pelos roteiristas. No entanto, como Sparks é também um dos produtores do filme, dá para afirmar que ele validou o resultado e, portanto, tem uma boa parcela de responsabilidade.

Começando pelo amontoado de clichês. Parece uma colagem de situações que deram certo em filmes anteriores: um amor que floresce sob a chuva, como em “Diário de Uma Paixão”; cartas reveladoras escritas por alguém que já morreu, como em “P.S. Eu Te Amo”; o namorado que impede a amada de ir embora quando ela já está quase partindo, como em milhares de filmes por aí… Sem contar cenas que não dá pra citar sem dar spoilers.

Com um enredo manjado e previsível, principalmente no envolvimento entre Katie e Alex, o roteiro gasta tempo demais desenvolvendo uma paixão que todos sabemos que irá se consumar. O resultado é que somente na meia hora final, a partir de uma revelação importante, é que a narrativa fica interessante. Se toda boa história precisa de um conflito para avançar, é só quando este obstáculo surge que o público tem algo para torcer. Mas aí o jogo já está perdido.

Até as tentativas de emocionar ficam a desejar, pois a interpretação dos atores Julianne Hough e Josh Duhamel é terrível. A dupla forma um casal insosso e sem química, cuja desarmonia começa já na diferença de altura entre os dois, que obriga o mocinho a sempre pegar a mocinha no colo quando quer beijá-la. A única cena com potencial para levar às lágrimas (a última do filme, por sinal) acaba desperdiçada por uma surpresa boba e desnecessária, que distrai o espectador e abafa o peso dramático.

Se você for diabético, não se preocupe: pode assistir a “Um Porto Seguro” tranquilamente, pois o filme não consegue sequer ser um romance água-com-açúcar. Mas se seu problema for “clichê-fobia”, é melhor pensar duas vezes.