Cassia Alves | 26 de novembro de 2012

Disparos | Crítica

É raro ver na cinematografia brasileira um filme como “Disparos” (Brasil 2012), grande vencedor do último festival do Rio – com três prêmios – e desde sexta-feira (23) em cartaz nos cinemas do país. Primeiro pela destreza técnica que o filme apresenta, uma fotografia saturada combinada como uma montagem fragmentada que calça a narrativa com […]

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É raro ver na cinematografia brasileira um filme como “Disparos” (Brasil 2012), grande vencedor do último festival do Rio – com três prêmios – e desde sexta-feira (23) em cartaz nos cinemas do país. Primeiro pela destreza técnica que o filme apresenta, uma fotografia saturada combinada como uma montagem fragmentada que calça a narrativa com desenvoltura, a despeito dos recursos escassos de que dispunha a diretora e roteirista estreante Juliana Reis. Em segundo, porque o filme enseja um debate complexo sobre a natureza e o alcance das tensões urbanas, tão reforçadas em tempos de violência extremada nas ruas da maior metrópole do país (São Paulo).

A ação de “Disparos” se passa em uma única noite, avançando pela madrugada, no Rio de Janeiro. O fotógrafo Henrique (Gustavo Machado) de vítima de assalto passa a acusado de omissão de socorro ainda nos primeiros minutos do filme em uma inversão corajosa do roteiro e que dispara a série de reflexões que “disparos” objetiva provocar no espectador.

A dupla de assaltantes que investia contra Henrique e um colega foi atropelada por uma caminhonete branca que saiu em disparada da cena do crime. Henrique recupera sua câmera fotográfica e também parte, mas volta para reaver o cartão digital. É quando é instigado por um policial a comparecer à delegacia para esclarecimentos. Lá tem início o ato que mais recebe atenção de Reis. É do confronto entre o inspetor Freire (sarcasticamente vivido por Caco Ciocler) e Henrique que Reis começa a relativizar o papel de vítima. A violência como elemento desumanizador é um dos focos que a cineasta objetiva atacar. É uma razão nobre. Sem falso moralismo, o filme oferta a seu espectador um suspense marginal esteticamente vigoroso e um debate oportuno e atual sobre responsabilidades que, muitas vezes, nem mesmo nos damos conta de ter.