Heitor Machado | 28 de outubro de 2012

Especial Adaptações Literárias – O Senhor dos Anéis

17 Oscar, 9 BAFTA, 7 Critics Choice Award, 6 Golden Globe, 4 Grammy, 2 Screen Actors Guild. No total, mais de 264 prêmios e um sucesso tão estrondoso digno de seu criador. Obra máxima da literatura fantástica do século XX, a trilogia O Senhor dos Aneis deixou as preciosas páginas que J. R. R. Tolkien […]

17 Oscar, 9 BAFTA, 7 Critics Choice Award, 6 Golden Globe, 4 Grammy, 2 Screen Actors Guild. No total, mais de 264 prêmios e um sucesso tão estrondoso digno de seu criador. Obra máxima da literatura fantástica do século XX, a trilogia O Senhor dos Aneis deixou as preciosas páginas que J. R. R. Tolkien tanto prezava para se tornarem, nas hábeis mãos de Peter Jackson, um dos filmes mais aclamados da história do cinema.

Se ainda estivesse vivo, o professor Tolkien seria, talvez, o único a discordar da visão do cineasta neozelandês – e não pela falta de cuidados com os longas, mas porque nunca foi a intenção do escritor que sua obra fosse adaptada. As conversões a que ele teve acesso causaram-lhe enorme desgosto. Mas talvez o próprio Tolkien mudasse de ideia quanto a sua dura restrição. Afinal, nem mesmo nós, fãs incondicionais, poderíamos esperar tanto.

Tampouco há unanimidade maior: poucos são aqueles que leram os livros, viram os filmes e não gostaram do resultado. Eu, por exemplo, não conheço nenhum. Peter Jackson conseguiu alcançar e deleitar a mente do mais rígido fã, sendo ele como um de nós. Ainda que houvesse uma ou outra falha a ser corrigida, uma ou outra cena que poderia ser deletada, a história contada por Jackson agradou a todos.

Isso só foi possível, contudo, graças aos próprios livros. Como João Guimarães Rosa e suas infinitas descrições do sertão mineiro, Tolkien detalhou com palavras um mundo inteiro, com todos os seus personagens, características, dramas, falhas, complexos, belezas e até mesmo cheiros, sabores, sensações. O escritor afro-britânico aportou, diretamente de sua imaginação, uma fantasia nova. Uma mitologia própria.

Como fã incondicional da obra de Tolkien, jamais consegui entender como, à época de seu lançamento, O Senhor dos Aneis jamais chegou a ser aclamado pela crítica – embora imediatamente adotado e adorado pelo público. Nem sequer os ilustres componentes do prêmio Nobel tiveram a sagacidade de enxergar o óbvio: que o escritor havia atingido o mesmo nível dos épicos de antigamente. Seu tão querido Beowulf, As Canções de Rolando, Cid e até mesmo a épica homérica, foram transformados e adaptados à nossa era, às nossas preocupações e aos nossos mundos particulares.

O que Peter Jackson fez foi somente seguir à risca o que está ali para qualquer um enxergar. Pois se há um mérito na obra de Tolkien (ainda que eu possa citar outros mais) é a de ser a mesma para todos. Não há como imaginar Valfenda, Lothlórien ou o Condado de outra maneira, pois ele sempre esteve ali em nossas imaginações. A habilidade de Jackson foi saber, como um bom tradutor, transmitir o que havia ficado gravado em nossas imaginações ao plano real. Ele tornou a fantasia possível.

Por mais que assista a trilogia – algo que já fiz incontáveis vezes, com os DVDs estendidos e os CDs duplos de extras incluídos – é o típico filme do qual nunca me cansarei de ver e rever. Pois é como se estivesse relendo os livros. E a surpresa maior é que a grande maioria sente o mesmo. Um texto bajulador, mas que só poderia, ao final, agradecer por tornar nossas imaginações realidade.