Marcio Miranda Perez | 18 de outubro de 2012

curta: Lucía y las Cosas

A ditadura argentina é uma ferida aberta. Ao contrário do Brasil, onde ainda hoje há resistência por parte de setores do governo, forças armadas e imprensa em encarar o mal perpretrado pelos militares no nosso país, na Argentina é consenso que as anos de ditadura foram os mais terríveis e vergonhosos que seu povo testemunhou. […]

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A ditadura argentina é uma ferida aberta. Ao contrário do Brasil, onde ainda hoje há resistência por parte de setores do governo, forças armadas e imprensa em encarar o mal perpretrado pelos militares no nosso país, na Argentina é consenso que as anos de ditadura foram os mais terríveis e vergonhosos que seu povo testemunhou.

Os delitos foram vários e infames: prisões ilegais, torturas e assassinatos. Mas talvez o crime mais cruel, por sua dimensão e consequência, tenha sido o sequestro de bebês e crianças pequenas, filhos dos presos políticos que na maioria das vezes terminaram mortos nos porões da ditadura. Separadas dos pais durante sua prisão ou às vezes roubadas das entranhas das presas grávidas, essas crianças, entregues a famílias ligadas à polícia e ao governo, tinham suas identidades deletadas e cresciam como se fossem outra pessoa, perdendo a conexão com sua família de origem.

As Avós de Maio e outros grupos de resistência buscam até hoje encontrar o rastro de centenas de crianças tiradas de seus pais, e conseguem algumas conquistas com muito esforço, muitas vezes através de pequenas pistas, uma lembrança, um nome esquecido que ressurge do tempo. É disso que trata Lucía y las Cosas, curta-metragem impressionista de Paula Abramovic e Andrés Rivas que revolve pressentimentos e recordações da protagonista Ana para desdobrar seu passado nebuloso de forma irreversível.