Marcio Salles | 22 de setembro de 2012

Dredd | Crítica

Os fãs das adaptações cinematográficas de quadrinhos sempre desejam ver a arte que estampa as páginas das HQs na tela de cinema. Alguns filmes contam com uma direção que se preocupa com esta transmissão da linguagem, fazendo as adaptações necessárias e que sabem coordenar o trabalho da equipe de maneira adequada. Dredd é um ótimo […]

Dredd-critica
Os fãs das adaptações cinematográficas de quadrinhos sempre desejam ver a arte que estampa as páginas das HQs na tela de cinema. Alguns filmes contam com uma direção que se preocupa com esta transmissão da linguagem, fazendo as adaptações necessárias e que sabem coordenar o trabalho da equipe de maneira adequada. Dredd é um ótimo exemplo disso.O filme que estreia este final de semana nas salas de cinema brasileiras conta a história de Joe Dredd, um juiz da Mega Cidade 1, uma região da América após a grande crise causada por um desastre nuclear e que faz com que milhões de pessoas fiquem confinandas em um espaço que correspondia ao trajeto entre as cidades de Boston e Washington.

Dredd e os outros juízes correspondem à Lei, ponto reforçado por diversas vezes ao longo do filme. Mega Cidade 1 é um local dominado pela violência e pela degradação humana. E é necessário entrar neste universo e se imaginar naquela cidade para conseguir absorver a ideia do filme e “comprar” a história do icorruptível e justiceiro juiz.

Assim, vamos acompanhar o trabalho de Dredd (Karl Urban) e sua orientação para a notava Anderson (Olivia Thirlby), uma mutante que entra em treinamento para virar juiz. A apresentação dos personagens é breve, porém não há muito tempo para seu desenvolvimento – o importante é a ação, e logo somos levados para ela. Na primeira tarefa da dupla, eles irão investigar um triplo assassinato em Peach Trees, uma das zonas residenciais mais violentas e dominada por Ma-Ma (Lena Headey), uma ex-prostituta e dona do principal cartel de drogas da cidade.

A representação gráfica do consumo da droga Slo-Mo, que deixa o tempo com 1% de sua velocidade normal, é um dos elementos mais interessantes do filme. Destaque para as cenas de ação passadas em slow motion, com todo o sangue característico da fita (e que o torna violento suficiente para a censura de 18 anos aplicada no país). A beleza da fotografia e da movimentação de câmera nestas sequências fazem com que o filme ganhe bastante em termos cinematográficos – mostrando realmente que os usuários da droga entram em universo diferente, colorido e mais interessante do que o mundo em que eles vivem. O cenário não é tão rico, mas não necessidade na exploração dele, para que o espectador se foque na ação e nas movimentações dos personagens.

As atuações não são tão chamativas: Karl Urban incorpora o justiceiro misto de Batman (por sua voz alterada com exagero e as falas por entre os dentes) e a movimentação de Robocop; e Olivia Thirlby é o ponto de identificação do público e os olhos do espectador dentro deste universo violento: será que estamos prontos para uma sociedade como esta?. Já a vilã Ma-Ma, vivida por Lena Heady é um dos personagens mais interessantes. Impassível diante do sofrimento alheio e com uma expressão dura e marcada por uma grande cicatriz, Ma-Ma desperta toda a raiva natural que temos pelos vilões.

O filme tem produção independente, mas mesmo assim não economizou na aprimoração da produção (foi rodado em 3D) e efeitos especiais realmente consistentes. O 3D é bem aplicado e se adapta bem à produção – principalmente nas cenas nos corredores de Peach Trees. Fazendo referência à primeira adaptação da graphic novel para o cinema, em 1995 e que teve Sylvester Stalone como o implacável juiz mas que não agradou os fãs, pela falha adaptação (sem retratar a real violência da história) e pela retirada do capacete por Dredd – um personagem que não tem rosto, apenas atitudes e uma referência imagética. Todos os problemas da primeira versão parecem corrigidos na obra de Pete Travis.

Sobre o diretor, vale comentar que ele tem uma tradição na produção de produtos para TV, tendo foco nos filmes e séries de ação. O trabalho do roteiro também é interessante e mantém a boa base dos quadrinhos nas falas das personagens, por onde conseguimos descobrir mais sobre eles. Porém, as soluções para as problemáticas da história acaba sendo simples e oportuna. Assim sendo, para quem procura um filme de ação com elementos de ficção científica e não tem problemas com altos índices de violência, Dredd é ideal.