Ricardo F. Santos | 20 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro | Crítica

Ser cinéfilo jovem na sociedade atual traz um dilema curioso quanto à remakes: assistir o novo ou o original primeiro? É certo que cada obra é um reflexo de sua época, mas sempre busquei a primeira opção. Com “O Vingador do Futuro” optei por encará-lo como um longa novo, sem assistir ao filme dirigido por […]

O-Vingador-do-Futuro

Ser cinéfilo jovem na sociedade atual traz um dilema curioso quanto à remakes: assistir o novo ou o original primeiro? É certo que cada obra é um reflexo de sua época, mas sempre busquei a primeira opção. Com “O Vingador do Futuro” optei por encará-lo como um longa novo, sem assistir ao filme dirigido por Paul Verhoeven, e o resultado foi medíocre de qualquer forma.

A trama é inspirada pelo conto We Can Remember It for You Wholesale de Phillip K. Dick, e traz um futuro distópico/cyberpunk onde o operário Doug Quaid (Colin Farrell) sofre com sonhos misteriosos e um crescente sentimento de inutilidade. Sua vida é radicalmente alterada quando este se envolve no programa Rekall, que fornece memórias ao gosto de seu cliente. Acho que seria spoiler revelar mais do que isso.

Primeiramente, já entrei na sessão do filme receioso ao saber que Len Wiseman comandaria o projeto. O medíocre diretor da franquia Anjos da Noite (e também de Duro de Matar 4.0, seu único acerto) continua mostrando-se um “cineasta” descontrolado e previsível, decepcionando até nas monótonas cenas de ação (reparem que em todas elas, em algum ponto, um dos personagens salta dramaticamente de um nível mais alto até atingir o solo). Wiseman também é muito orgulhoso de seu casamento com Kate Beckinsale, já que insere diversos planos com o posterior da atriz como, se quisesse dizer: “Vejam só como minha esposa é gostosa!”.

E é lamentável ver (pela enésima vez) o belo design de produção do filme ser desperdiçado. Os cenários de Patrick Tatopoulos tomam referências de Blade Runner ao retratar a decadência da Colônia (constantemente castigada pela chuva, como no filme de Ridley Scott) e da estética clean de Minority Report e Eu, Robô nos arranha-céus e veículos da F.U.B. O resultado fica espetacular na tela, mas a fotografia de Paul Cameron exagera nos flares (alguém, por favor,  me explique a função narrativa dessas luzes inúteis?).

Quanto à história, basta dizer que ela poderia ser melhor se ousasse mais. Lembrando mais uma vez de que não assisti ao filme original, mas este parece mais um A Identidade Bourne futurista, com um agente secreto (!) incrivelmente bem treinado (!!) lutando para descobrir seu passado (!!!). Por um breve momento o longa poderia ter seguido um caminho muito interessante, quando Doug questiona se o que está acontecendo é de fato realidade ou uma fantasia proporcionada pelo Rekall. Os roteiristas poderiam ter entrado na questão da ambiguidade, mas isso requeriria que o espectador usasse mais de sua inteligência, que consequentemente, notaria a exiguidade da trama.

Trazendo um elenco que funciona (mas que não surpreende), O Vingador do Futuro teria sido fascinante se recorresse mais à ficção científica do que às genéricas cenas de ação. O lado positivo é que provavelmente aproveitarei mais o filme com Arnold Schwarzenegger, já que não pode ser pior do que a nova versão.

Obs: Nunca entendi esse título nacional… Não acham que “Total Rekall” seria mais divertido?