Cassia Alves | 30 de julho de 2012

cine sexo: ah os franceses…

Criou-se um senso comum no mundinho da cinefilia de que ninguém faz tanto sexo quanto os franceses. Pelo menos no cinema. Não é uma impressão nova, ainda que alguns lançamentos franceses recentes possam sugerir o contrário. Talvez, o mais correto seja apontar a Nouvelle Vague como plataforma uterina dessa noção. Afinal, o movimento capitalizado por […]

Nathalie-x

Criou-se um senso comum no mundinho da cinefilia de que ninguém faz tanto sexo quanto os franceses. Pelo menos no cinema. Não é uma impressão nova, ainda que alguns lançamentos franceses recentes possam sugerir o contrário.

Talvez, o mais correto seja apontar a Nouvelle Vague como plataforma uterina dessa noção. Afinal, o movimento capitalizado por Jean-Luc Godard, François Truffaut e Allain Resnais se caracterizava pela transgressão das regras tradicionalmente vigentes no cinema comercial.

Mesmo hoje, quando o sexo já é mercantilizado em produções hollywoodianas, os franceses abordam de maneira mais paulatina questões ainda tergiversadas em cinematografias de outros países.

Basta fazer uma simples comparação envolvendo um ótimo drama erótico francês e sua versão americana. Em “Nathalie X” (2003), de Anne Fontaine, uma mulher insegura com sua sexualidade e desconfiada da infidelidade do marido paga uma garota de programa para seduzi-lo e reportar toda a dinâmica – que a partir de um momento passa a ser incrivelmente sexual – em encontros que aos poucos também ganham voltagem sexual.

A ótima ideia serviu de base para “O preço da traição” (2009), do ótimo diretor egípcio naturalizado canadense Atom Egoyan. O diretor transforma o drama em um thriller erótico e faz das ressalvas morais, apenas sugeridas no original, um elemento central de seu filme.

Se as cenas de sexo, bela, excitantes e de bom gosto, não ficam nada a dever a “Nathalie X”, a pulsão sexual da trama que as adorna se esvazia à medida que o sexo vai deixando de ser uma questão central dos conflitos dos personagens.

O remake não é um filme ruim. É muito sensual e cativante a sua maneira. No entanto, deixa emergir a percepção de que os franceses estão muito mais a vontade para discutir sexualidade no cinema do que os americanos. Ou do que qualquer outra cinematografia no mundo.

Filmes recentes, que serão pautas de futuras colunas, como “Para poucos” (2010), “Elles” (2012) e “Canções de amor” (2007) ratificam o cinema francês como polo de sexualidade na sétima arte.