Ricardo F. Santos | 29 de julho de 2012

Adaptações Literárias – Deixa ela entrar

Nos tempos em que vivemos, vampiros são retratados de maneira superficial e contrária à tradicional; brilham na luz do sol, bebem sangue raramente, correm atrás de menininhas emburradas, entre outras bizarrices. Deixa Ela Entrar estreou em 2009, fazendo sucesso mundialmente, mas sem destaque no Brasil. Este pequeno filme sueco não é apenas o melhor filme […]

Nos tempos em que vivemos, vampiros são retratados de maneira superficial e contrária à tradicional; brilham na luz do sol, bebem sangue raramente, correm atrás de menininhas emburradas, entre outras bizarrices. Deixa Ela Entrar estreou em 2009, fazendo sucesso mundialmente, mas sem destaque no Brasil. Este pequeno filme sueco não é apenas o melhor filme de vampiros já feito, mas também uma obra madura, séria e memorável.

Adaptado do perturbador livro de John Ajvide Lindqvist (que também assina o roteiro), a história é descrita como uma parábola sobre a adolescência. O próprio autor afirmou que se baseou em experiências próprias (tal como a perseguição na escola) e que a jornada do pequeno Oskar é uma de amadurecimento e saída do conforto dos pais, para o gélido mundo real que o aguarda. Tome essa delicada premissa, e acrescente vampiras sedentas de sangue e um aspirante a serial killer.

A simplicidade estética é a razão do resultado inebriante da fita. Lindqvist se mantém fiel às tradições vampirescas originais e, ao mesmo tempo, apresenta uma visão diferente e inovadora sobre o tema (tome como exemplo o “ciclo” quanto ao ajudante de Eli. O diretor Tomas Alfredson gera um filme sombrio e muito silencioso, resultado de um trabalho de fotografia e edição de som esplêndidos; a Estocolmo fria e coberta de neve dos anos 80 apresenta-se como o cenário perfeito para a história.

Não poderia deixar de mencionar, claro, o desempenho do talentoso elenco jovem. Kåre Hedebrant assume com delicadeza o papel de Oskar, jovem perturbado pelo bullying que sofre em sua escola, e insere uma sutil camada perversa – que poderá levá-lo a um destino similar ao de outro personagem. A vampira Eli é vivida brilhantemente por Lina Leandersson, que tem presença marcante e torna a personagem muito interessante e memorável, especialmente por sua ambígua personalidade e a assustadora transformação bestial. Os dois em cena rendem ótima química e o futuro dos personagens é deixado à interpretação do espectador.

Deixa ela Entrar é um impecável trabalho sobre o mito dos vampiros, apresentando uma história original, excelentes atuações e um ótimo exercício de narrativa, que depende muito de seu espectador para funcionar. O filme ganhou uma (ótima) versão hollywoodiana em 2010, que também merece uma olhada.