Cassia Alves | 16 de julho de 2012

cine sexo: Não tão gostoso como antigamente…

A comédia que leva as conversas de bar para as telas de cinema, como promete o slogan de “E aí… comeu?”, já superou a marca de mais de um milhão de espectadores no cinema. É de longe a melhor performance de um filme nacional no ano. 2012, é verdade, ainda não acabou, mas a maioria […]

e-ai-comeu

A comédia que leva as conversas de bar para as telas de cinema, como promete o slogan de “E aí… comeu?”, já superou a marca de mais de um milhão de espectadores no cinema. É de longe a melhor performance de um filme nacional no ano. 2012, é verdade, ainda não acabou, mas a maioria dos filmes programados para a temporada já foi lançada.

A fita protagonizada pelo comediante Bruno Mazzeo confirma que, além das comédias, o brasileiro busca no cinema nacional filmes que carreguem algum apelo sexual. O próprio Mazzeo é o destaque de um dos grandes sucessos de 2011. Em “Cilada.com”, adaptação do programa de tv que estrelava em um canal da tv a cabo, Mazzeo viveu um cara que teve seu problema de ejaculação precoce exposto em vídeo no Youtube por uma ex-namorada rancorosa.

“Cilada.com” e “E aí…comeu?” são sintomáticos de uma nova geração do humor nacional que quer falar de sexo, mas não sabe exatamente como tornar o tema atraente. O cinema brasileiro tem uma longa relação com o sexo, mas de uns tempos para cá – a despeito do aparente desprendimento na abordagem – vem ficando mais careta. Desde os áureos tempos da pornochanchada, nos anos 70, filmes que dimensionam o sexo não como um instrumento de atração, mas como representação da realidade e manifestação artística, como “Baixio das bestas” (2007) e “Cidade baixa” (2005), estão escasseando. Em entrevista recente, na ocasião do lançamento de seu mais novo filme, “Febre do rato” (2012), o cineasta pernambucano Cláudio Assis – em tom de protesto – devolveu uma pergunta ao entrevistador: “Qual o problema de aparecer todo mundo pelado?”

Em “E aí…comeu?”, que curiosamente foi lançado nos cinemas no mesmo 22 de junho de “Febre do rato”, não há cenas de sexo propriamente ditas. Há cenas de insinuação de sexo. Cláudio Assis, um artista que agride tanto quanto é agredido, defende as polêmicas de seus filmes, onde há espaço para todo tipo de tara e perversão sexual. Desde o avô que explora a neta em um remoto vilarejo até entusiastas da necrofilia (ato sexual com defuntos).

Não se defende o cinema que utiliza o sexo como subterfúgio para fazer humor, nem o cinema que o utiliza como veículo para causar o choque. Defende-se o direito do contraditório. Há, nos porões da cultura brasileira, um impulso censor que visa tornar o sexo, um pretexto para ir ao cinema e não necessariamente algo que mereça destaque no cinema. Esse embuste precisa ser percebido como tal. Afinal de contas, qual é mesmo o problema de aparecer todo mundo pelado?