Ricardo F. Santos | 24 de junho de 2012

Sombras da Noite | Crítica

Levante a mão se você não aguenta mais filmes de vampiro. Graças à Stephenie Meyer e seu Crepúsculo, estúdios de cinema por todo o mundo deram sinal verde para produções com os seres sanguessugas apresentando, ou não, um teor romântico. É certo que tivemos bons resultados pelo caminho (como Deixa ela Entrar e sua versão hollywoodiana), mas o gênero […]

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Levante a mão se você não aguenta mais filmes de vampiro. Graças à Stephenie Meyer e seu Crepúsculo, estúdios de cinema por todo o mundo deram sinal verde para produções com os seres sanguessugas apresentando, ou não, um teor romântico. É certo que tivemos bons resultados pelo caminho (como Deixa ela Entrar e sua versão hollywoodiana), mas o gênero já vai se esgotando. Era de se esperar que o gênio bizarro de Tim Burton fizesse algo inovador, mas Sombras da Noite é mais um ponto fraco na carreira do diretor.

Inspirado a partir do seriado de Dan Curtis, a trama é bem promissora: Barnabas Collins (Johnny Depp, em sua oitava colaboração com Burton) é um vampiro que, depois de aprisionado por dois séculos, desperta repentinamente em plena década de 70. Tentando se ajustar às estranhezas do mundo moderno, ele luta para recuperar o prestígio de sua família.

O problema de Sombras da Noite é o mesmo que Tim Burton enfrentou em seu Alice: o roteiro. Plasticamente impecável, o diretor acerta novamente no visual e na ambientação da história – contando com uma bela trilha instrumental (que inclui até uma participação de Alice Cooper) para auxiliar nesse quesito e uma lindíssima fotografia dark de Bruno Delbonell. Mas o texto de Seth Grahame-Smith simplesmente não empolga, diverte pouco (o timing cômico raramente acerta, tendo uma de suas melhores piadas envolvendo o McDonalds) e falha ao explorar todo seu vasto potencial em um longa sem ritmo.

Por exemplo, não é realmente empolgante ver um vampiro recém-libertado de um caixão tratando de negócios de sua empresa de pesca. O que torna o filme suportável é de longe Johnny Depp, que acrescenta mais um personagem memorável à sua invejável carreira e o faz sem repetir-se, acertando no sotaque e nas expressões de Barnabas; cujo contraste entre bom e mau (ele é uma máquina de matar, mas sente remorso por suas ações) surpreende. É satisfatório também ver o ator encarnando a caracterização “clássica” do vampiro: pele pálida, presas e longos dedos que remetem diretamente ao icônico Nosferatu.

Vampiros à parte, bruxas, fantasmas e lobisomens não impressionam tanto como o protagonista. Maliciosa e atraente como seu decote, Eva Green se destaca dentre os coadjuvantes, que contam com as apagadas Michelle Pffeifer e Helena Bonham Carter; duas personagens desinteressantes e cujas intenções nunca são bem desenvolvidas. Salva-se Chloë Grace Moretz (já bem crescidinha), mas seu bom trabalho é prejudicado pela reviravolta estúpida – ainda que a mesma apresente “pistas” antes de acontecer – que sua personagem sofre próximo ao fim.

Caminhando lentamente até um clímax decepcionante, Sombras da Noite chega a ser entediante. Mais uma vez, Tim Burton dedica mais atenção ao belo visual do que a história que está contando e, perdoem o trocadilho, resulta num filme tão notável como uma sombra na noite.

DARK SHADOWS, 2012 – EUA
Direção: Tim Burton

Roteiro: Seth Grahame-Smith, baseado no argumento de John August e na série de televisão de Dan Curtis

Elenco

Johnny Depp – Barnabas Collins
Eva Green – Angelique Bouchard
Michelle Pfeiffer – Elizabeth Collins Stoddard
Helena Bonham Carter – Dra. Julia Hoffman
Chloe Moretz – Carolyn Stoddard
Jackie Earle Haley – Willie Loomis