Marcio Salles | 15 de fevereiro de 2012

As Mulheres do Sexto Andar | Crítica

  Falar da questão do gênero e a participação feminina na sociedade nas telas do cinema, sem enfoque político e com um tom bem-humorado. Seria possível? Pois é. As Mulheres do Sexto Andar consegue abordar estes assuntos de forma inteligente, trazendo leveza para o tema, mas abordando os principais tópicos deste assunto de suma importância. […]

 

Falar da questão do gênero e a participação feminina na sociedade nas telas do cinema, sem enfoque político e com um tom bem-humorado. Seria possível? Pois é. As Mulheres do Sexto Andar consegue abordar estes assuntos de forma inteligente, trazendo leveza para o tema, mas abordando os principais tópicos deste assunto de suma importância.

São as histórias de senhoras espanholas, que deixam suas vilas no interior rumo à Paris, onde buscam trabalhos de empregadas com as famílias francesas dos anos 1960. As histórias das senhoras francesas que ocupam sua função de esposa e seus maridos como o pilar financeiro

da casa. Ao retratar uma família que deixa de ter uma empregada da Bretanha por uma espanhola, acontece a desconstrução familiar da época e das culturas de ambos os países.

A família burguesa é exposta aos poucos (juntamente com as grandes marcas de sua falência): o marido que quase não convive com a esposa em uma vida conjugal, a mulher fútil e que não tem grandes programas para sua vida além de compras, salões de beleza e bridge com as amigas e os filhos que estudam em colégios internos e até então viam apenas a empregada como sua verdadeira mãe.

Fabrice Luchini é Jean-Louis Joubert, corretor da bolsa, casado com Suzanne (Sandrine Kiberlain). Eles contratam Maria (Natalia Verbeke), uma moça recém-chegada da Espanha para trabalhar em sua casa.

Jean-Louis encanta-se com a moça em pouco tempo, por sua beleza e alegria, nitidamente retratada nos momentos em que as outras empregadas espanholas também estão em cena.

Por meio de Maria, Jean-Louis conhece o que há de mais simples na vida: o apoio a um amigo necessitado, a alegria de um sorriso de gratidão, a liberdade, a felicidade pura e simples. Assim, ele vai se descobrindo apaixonado pela moça e por sua cultura, quando passa a

aprender espanhol e jantar com as senhoras espanholas um dos pratos mais tradicionais do país: a paella. Neste trecho, demonstra-se todo o respeito e fascínio do personagem pela cultura espanhola, quando ele pede para que Maria faça o prato em sua casa.

Quanto às questões sociais, o diretor Phillippe Le Guay fala: “A armadilha que tivemos que evitar a todo custo era o chefe apaixonar-se pela empregada. É por isso que eu insisti que tinha que ser não apenas uma, mas várias mulheres. Jean-Louis Joubert (Luchini) descobre uma comunidade e de repente sua cultura torna-se parte de sua vida. O filme apresenta a você um mundo que é desconhecido, apesar de ser tão perto. No filme Jean-Louis resume tudo com a seguinte frase: ‘Essas mulheres estão vivendo bem acima de nossas cabeças, e não sabemos a menor coisa sobre elas’”.

Algumas particularidades em relação ao texto também alfinetam a questão entre o patrão e os empregados, quando a primeira empregada vai embora e a casa fica completamente bagunçada e o marido não tem roupas limpas para ir trabalhar. Ou quando em uma conversa informal com as amigas da esposa, Jean-Louis alfineta uma delas dizendo que ela

deveria experimentar fazer faxina para ver como é. Leves ironias e que passam a valorizar as estruturas sociais em que quaisquer trabalhos merecem.

No elenco das empregadas espanholas, Le Guay contou com duas atrizes que já estiveram em obras de Pedro Almodóvar, o que até era de se esperar: Carmen Maura, que vive Concepción, e trabalhou em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988); e Lola Dueñas, a Carmen do filme (ela esteve em Volver – 2006). Ele, entretanto, tentou fugir do esteriótipo do diretor espanhol, chamando mais atrizes do teatro: Solé Nuria (Teresa), Ojea Berta (Dolores) e Concha Galán (Pilar). “As duas últimas não falavam uma palavra de francês e aprenderam as suas falas

foneticamente. Elas têm esse temperamento incrível, incorporando toda a intensidade, a violência e a volubilidade das mulheres espanholas”, disse.

Les Femmes du 6ême Étage – França – 2011

Direção: Philippe Le Guay

Roteiro: Philippe Le Guay, Jérôme Tonnerre

Elenco:  Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain, Natalia Verbeke, Carmen Maura, Lola Dueñas

Duração: 104 min