| 13 de fevereiro de 2012

Vidas Cruzadas | Crítica

Depois de uma excelente realização no comando de Inverno da Alma (2010), Tate Taylor entrega um trabalho que tinha totais condições de consolidá-lo como um cineasta aos moldes do Oscar, mas deixou escapar a oportunidade. Trata-se de Vidas Cruzadas, um filme que ambienta o racismo do sul dos Estados Unidos como pano de fundo o American Way Of […]

Emma Stone and Viola Davis The Help

Depois de uma excelente realização no comando de Inverno da Alma (2010), Tate Taylor entrega um trabalho que tinha totais condições de consolidá-lo como um cineasta aos moldes do Oscar, mas deixou escapar a oportunidade. Trata-se de Vidas Cruzadas, um filme que ambienta o racismo do sul dos Estados Unidos como pano de fundo o American Way Of Life do final da década de 1950 e início da década de 1960.

Aibileen (Viola Davis) é uma babá negra de uma casa tipicamente americana de brancos, vivendo na época de ouro do capitalismo norte-americano: consumo em alta, mulheres afrescalhadas curtindo reuniões com amigas, enquanto seus maridos passam o dia inteiro fora, seja lá trabalhando ou aprontando alguma. A escravidão nos Estados Unidos terminou oficialmente em 1863, mas mesmo depois de quase um século era visível a distinção entre brancos e negros. As posições sociais eram tão distintas que negros tinham banheiros separados nessas casas de brancos, assim como o transporte público, os bairros e todas as formas de relacionamento, evidenciando a segregação e a posição de inferioridade imposta aos negros.

Skeeter (Emma Stone) é a típica ovelha negra dentro do grupo das mulheres alienadas e felizes com o status quo. Ela estava motivada a conhecer melhor a vida da sua babá que já tinha falecido e acabou descobrindo inúmeros casos de sofrimento e humilhação de outras babás. Ouvindo relatos de Aibileen e da expansiva Minny, Skeeter resolve escrever um livro relatando as histórias que as negras sumariamente babás dessas casas passavam nas mãos das brancas.

Depois de fazer o mártir das negras, abusando um bocado de personagens esteriotipadas, o filme dá uma virada infeliz ao ressaltar a publicação do livro como ápice da revolução contra abusos e opressão às babas negras. A branca consciente salvando as negras incapazes de se mobilizarem por conta própria?

Lamentável a parte final do filme. As personagens Aibileen e Minny pareciam contar com personalidade de sobra para conseguirem reunir as  amigas babás sem precisar de Skeeter que por suas características parecia ser a mais frágil de todas. Mas na visão do diretor ou dos produtores, a publicação de “The Help” (nome original do filme) representou o ato “libertador”, a tomada de consciência contra a opressão do racismo.

O ponto alto do filme é a caracterização da época: maquiagem, figurino e o toque de humor na medida. Octavia Spencer no papel de Minny está tão boa que quase rouba a cena de Viola Davis, que deve se contentar com a indicação de melhor atriz. Spencer deve levar o Oscar de coadjuvante. Ao menos seria merecido.

The Help – EUA – 2011

Diretor: Tate Taylor

Roteiro: Tate Taylor / Kathryn Stockett (escritora do romance original)

Elenco:  Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain