Suporte NeoImagine | 26 de janeiro de 2012

Especial J. Edgar – Os EUA segundo Clint Eastwood

Um dos personagens mais famosos de Clint Eastwood é “Dirty” Harry Callahan. Na conturbada década de 70, o personagem surgia como a justiça em tempos profundamente conturbados e conservadores. Callahan era, em algum grau, a personificação dos Estados Unidos. O filme de 1971, Perseguidor Implacável, era livremente baseado nos crimes do Zodíaco*, assassino serial que […]

Um dos personagens mais famosos de Clint Eastwood é “Dirty” Harry Callahan. Na conturbada década de 70, o personagem surgia como a justiça em tempos profundamente conturbados e conservadores. Callahan era, em algum grau, a personificação dos Estados Unidos. O filme de 1971, Perseguidor Implacável, era livremente baseado nos crimes do Zodíaco*, assassino serial que aterrorizou San Francisco no final da década de 60 e durante a década de 70. O assassino real nunca foi capturado ou sequer teve sua identidade descoberta, mas  o fato de que ao menos no cinema a justiça era feita e o criminoso, punido (ou torturado).

Já enquanto diretor, Eastwood tratou quase sempre de facetas da sociedade americana. Já vimos que a família e o homem fragilizado são temas caros para o cineasta. O homem fragilizado de Eastwood se mistura, em certa medida, com a imagem de homem americano.

Falando dos filmes mais recentes, em A Conquista da Honra (2006) e Cartas de Iwo Jima (2006) o diretor se volta para o mesmo episódio da Segunda Guerra Mundial – a batalha de Iwo Jima. A Segunda Guerra é o episódio bélico que mais foi usado como símbolo dos Estados Unidos como virtuoses do que é correto e bom para o mundo. O mais interessante, no caso, é que os resultados cinematográficos são consideravelmente superiores quando a narrativa é contada sob o ponto de vista dos japoneses (Iwo Jima).

Na década de 20, Christine Collins descobre que seu filho sumiu. Cinco meses depois, a polícia encontra um garoto e diz que é o filho de Christine. Em um primeiro momento, ela leva o menino para casa, mas com o correr dos dias, ela procura a polícia para dizer que o garoto não é seu filho. Essa é a principal trama de A Troca (2008). O filme se volta, então, para a força policial corrupta que tomava conta de Los Angeles e para o julgamento de um assassino. A óbvia falta de foco tanto na trama de Christine quanto na do assassino parece demonstrar que o interesse do filme é tanto mais o sistema judicial americano – e, consequentemente, o que se entende por Justiça – do que de fato a resolução dos problemas dos personagens.

Em Gran Torino (2008) o diretor volta a encarnar uma espécie de Dirty Harry já aposentado e profundamente deslocado. O filme é a despedida de Eastwood do seu icônico personagem. Não cabe mais, na sociedade americana que elege Barack Obama, um xenófobo conservador que faz justiça com as próprias mãos, como fazia Harry Callahan.

É interessante ver o percurso que Eastwood faz sobre os Estados Unidos, sempre com interesse especial para certos detalhes e imagens caras à sociedade. Resta saber como o FBI e seu mentor, J. Edgar Hoover, serão representador pelo diretor.

*A caça ao Zodíaco rendeu o filme homônimo de David Fincher (2007). Na trama, Dave Toschi (Mark Ruffalo), o detetive encarregado do caso vai ao cinema justamente para assistir Perseguidor implacável. Callahan é livremente baseado em Toschi.