Suporte NeoImagine | 10 de janeiro de 2012

A Guerra está Declarada | Crítica

A princípio, ouvir o conto novamente no cinema sobre os tais “Roméo e Juliette” parece mais uma versão homérica da obra de Skakespeare com os devidos clichês categóricos, dramas e teatralidade emocional. Essa é justamente a proposta inversa em que A Guerra está Declarada sob a direção de Valérie Donzelli (a própria atriz protagonista) e escrito […]

A Guerra Está Declarada

A princípio, ouvir o conto novamente no cinema sobre os tais “Roméo e Juliette” parece mais uma versão homérica da obra de Skakespeare com os devidos clichês categóricos, dramas e teatralidade emocional. Essa é justamente a proposta inversa em que A Guerra está Declarada sob a direção de Valérie Donzelli (a própria atriz protagonista) e escrito juntamente com Jérémie Elkaïm, que também, atua formando o casal, assim como na vida real.

Roméo (Jérémie Elkaïm) e Juliette (Valérie Donzelli) se conhecem de uma forma despretensiosa, tanto que o diálogo logo se torna cômico pelo fato dos dois se apresentarem, e terem os mesmo nomes do famoso romance. “Teremos um destino terrível”, diz Roméo.

A empatia pelo casal se consolida nas primeiras cenas, ao qual transcorrerá até o último momento, transparecendo ao público uma sensação de naturalidade e conforto.

Porém, a tragédia não ficou apenas na citação descontraída, e logo depois do nascimento do filho descobrem o inevitável: um tumor no cérebro do pequeno Adam (César Desseix).

A lástima não é o suficiente para desequilibrá-los. Procuram assistência dos melhores profissionais, e o conforto da família e amigos presente de ambos. Estabelecem um código de conduta, e dentre suas regras estabelecidas, dizem não a qualquer tipo de especulação, alarmismos e deixar-se vencer sobre a doença. E assim, vivem. Não só no sentido físico que a palavra representa, mas o estado de espírito em que decidem enfrentar o problema, ultrapassando a razão compreensível da dor cotidiana.

Adam recebe o amor dos pais que o visita diariamente enquanto internado. E essa construção se deve as forças que eles mesmos resolvem não abandonar com os hábitos de eternos namorados: correm matinalmente, jogam futebol, vão às festas, brincam como crianças e se embebedam como adultos. Tudo isso em harmonia e um “quê” de loucura, e de certa forma podemos dizer que o nervosismo e toda tensão é expelido comicamente, como um bloqueio ao sofrimento. O escape de insanidade. O drama fica mascarado e intocável, compondo apenas um personagem distante.

Essa síntese pode ser vista na cena que antecede a operação de Adam. Os dois decidem contar seus medos um ao outro, como pretexto de aliviar toda agonia. E o resultado do diálogo é digno de aplauso e muita risada, com fundo de humor “politicamente incorreto”.

A atuação de ambos os atores tem uma nobreza e particularidade, considerando que o longa é autobiográfico, e baseado no filho do casal, Gabriel Elkaïm.

Não diria que a trilha sonora é eclética, mas uma peça fundamental no desenvolver da trama. Impactante e tem presença junto ao corpo do elenco.

Indicado para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro pela França, essa produção francesa tem em sua veracidade uma incrível ordem de comoção sem nenhuma apelação ao romancismo ou demasiado drama.

 Nome original: La guerre est déclarée – França

Diretor: Valérie Donzelli

Roteirista: Jérémie Elkaïm, Valérie Donzelli

Elenco: Jérémie Elkaïm, Valérie Donzelli, César Desseix, Gabriel Elkaïm.

Duração: 100 min.