Reinaldo Glioche | 2 de novembro de 2011

Salada de Cinema entrevista Nando Olival, diretor de ‘Os 3’

Nando Olival é o diretor de “Os 3”, filme que estréia essa sexta-feira nos cinemas. Ainda que seja o primeiro longa-metragem que assina sozinho a produção, ele possui uma extensa carreira na publicidade. Exemplo disso foi o curta “Eduardo e Mônica”. Nessa entrevista, feita durante a divulgação do filme no Festival do Rio, ele nos […]

nando olival

Nando Olival é o diretor de “Os 3”, filme que estréia essa sexta-feira nos cinemas. Ainda que seja o primeiro longa-metragem que assina sozinho a produção, ele possui uma extensa carreira na publicidade. Exemplo disso foi o curta “Eduardo e Mônica”. Nessa entrevista, feita durante a divulgação do filme no Festival do Rio, ele nos contou um pouco como o filme foi feito.

Salada de Cinema – Na abertura do filme você disse que não haveria filme se não houvesse os atores. Você já conhecia algum deles?

Não conhecia nenhum deles e dirigi durante muito tempo os testes, porque queria conhecer os atores. A gente é meio cruel vendo o teste, não damos chance nenhuma. Vê um, passa outro, chega o quinto e você já dá forward. E não queria ter essa crueldade com o filme, que é uma coisa que eu faço muito em publicidade. Então resolvi fazer os testes. Todos os atores e atrizes que chegavam eu falava: “eu vou fazer o primeiro teste com você, mas eu não estou querendo partircularmente você, o seu personagem. Quero três pessoas, estou atrás de um trio. Então se eu gostar de você, faremos um outro teste, onde eu vou te encaixar com mais duas pessoas e vamos ver como você funciona com essas duas pessoas. Talvez não funcione, mas eu posso gostar de você com outra pessoa, e aí junto mais uma.” Logo, era um quebra-cabeça para montar porque eu tinha a impressão que realmente não estava atrás de um personagem. Tinha que funcionar como um trio. E eu tinha que rodar um pouco rápido, e havia muita sensualidade, toque. Se não tivesse atores que não possuíssem essa liga de toque de pele, eu teria que ficar a filmagem inteira “chega mais perto, pega na perna dele.” E eles têm isso! Então foi bárbaro, esses três realmente fizeram o filme. Se não os tivesse, ia ter uma baita dificuldade de rodar.

Salada de Cinema – E qual deles foi o primeiro a ser escolhido?

A Juliana foi uma que me captou. No primeiro teste eu escrevia um texto para eles, então eles entravam sabendo um pouco da história, e eu pedia para eles contarem um pouco, como se fosse a vida deles. E a Juliana entrou com essa coisa cativante… Então acho que a Ju foi a primeira.

Salada de Cinema – E o mais difícil, quem foi?

O mais difícil de encontrar, na verdade, foi o Cazé. Que foi o último que entrou, o Gabriel. Era um personagem que nos testes todos os atores faziam com uma atitude cafajeste, malandra. Então veio o Gabriel com essa docilidade, bacana.

No filme, os atores se mudam para São Paulo para fazer faculdade, mas nenhum sabe muito bem o que quer fazer. Tem alguma crítica nisso? Afinal, os jovens com 17 anos já precisam escolher uma carreira e focar no vestibular.

Eu não gosto muito de fazer crítica. Se a crítica se sobrepõe a qualquer coisa que eu faço, eu acho que estou fazendo errado. Mas ela é uma observação, porque eu tenho um filho nessa idade, e todos amigos fazem essa teste vocacional, assistência terapêutica. E eu falo o seguinte: “vocês gostam de trabalhar, acham legal? Então qualquer coisa é bacana.” Se você gostar de trabalhar, você vai gostar de qualquer coisa. Não adianta ficar procurando o ideal. Você pode ser jornalista e trabalhar numa empresa de bioquimica, porque hoje em dia é tudo muito misturado.

Salada de Cinema – Você é um diretor que trabalha muito com publicidade. Você acha que a linguagem do filme tem um pouco dessa mesma linguagem, que você usa na publicidade?

Acho que é inegável que ele carregue um pouco da minha história. Na publicidade a gente filma muito diferente. Não só de produzir, mas de filmar. Eu acho legal quando a crítica concerne a superficialidade de alguma coisa, apersar de achar que de vez em quando planos longos, na altura dos olhos, carregam a mesma profundidade. Mas eu vejo muito da publicidade em alguns filmes. Essa coisa do cuidado, do trato. A cada sequência você querer e saber exatamente o que se está fazendo. Acho que todo cineasta popular tem isso: o trato com a imagem, com o som. Esse artesanato. E eu gosto desse artesanato, de enquadrar, de fazer uma decupagem precisa. Pra mim, filmar é isso. É o que eu gosto de fazer.

Salada de Cinema – E quanto tempo demorou para o filme ser feito?

O filme foi feito em menos de 4 semanas, tudo muito rápido. É uma produção independente, um investimento meu, então tinha que ser consiso.

Salada de Cinema – Foi difícil achar a locação?

Foi difícil porque eu estava procurando um lugar em que pudessemos fazer a locação em cima e a produção embaixo. Porque iria economizar bastante. Eles moram no segundo andar e toda a parte embaixo é a produção, que ainda tinha uma sala que de montagem, onde o Dani Resende ficava. Filmavamos em cima, e no dia seguinte pela manhã ele já tinha o material para montar. É um filme que é todo consiso, não tem muito mais material do que tem ali. Todas as cenas que foram filmadas estão lá, todos os eixos, os cortes… Não tem sobras.

Salada de  Cinema – O filme é sobre um triângulo amoroso, e já vimos diversos filmes sobre esse tema, como “Jules et Jim” e “Os Sonhadores.” Tem duas cenas que soam uma homenagem. Foi por acaso?

Ele na verdade tem uma única homenagem, e meio sem querer, do “Jules et Jim”. Quando estávamos filmando o início do filme, que era em um prédio no centro de São Paulo, terminamos de filmar e falamos: “vamos roubar umas cenas aqui no centro de São Paulo.” E aí tinha essa passarela, meio iluminada onde decidimos roubar ali. Mas a banheira não, foi mais uma piada de ser uma caixa d’gua. E acho que Os Sonhadores é muito diferente. Eu acho que o que eles têm de parecido são os dois homens e uma mulher, e evidente, a tensão sexual que existe entre eles. Mas muita gente já passou por algo assim quando era jovem. E acho que cada um tem um tom. “Três Formas de Amar”, por exemplo, é um filme sobre experiencias sexuais. “Os Sonhadores” é uma experiencia politica. Esse filme é muito diferente porque a relação entre os três é mais sentimental. Os três precisam entender como vai ser, sentimentalmente, a vida adulta deles. Ele é um ritual de passagem.

Salada de Cinema – E como surgiu a idéia de um reality show dentro de um filme?

Acabou juntando essa coisa da exposição, porque tinha essa exposição de sentimentos. Então juntei um pouco dessa exposição. Não só de reality show, mas de Twitter, Facebook, de como as pessoas cada vez se expõem mais e o quanto essa exposição pode ser mentirosa. Porque às vezes aquele personagem que você está expondo não é exatamente você. Você cria uma persona, e de repente uma segunda. Então você cria uma terceira para justificar a segunda que você criou. E como estava falando de exposição de sentimento, achei que tensionar isso com um olha público poderia dar um gancho para que houvesse mais tensão.

Por Heitor Machado