| 24 de maio de 2011

Repercutindo a 64ª edição do festival de Cannes

Não dá para dizer que foi uma surpresa, como aconteceu com a premiação de “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” ano passado, mas a Palma de Ouro entregue a “A árvore da vida” no último domingo, assim como ocorreu com o filme tailandês, passou longe de ser uma unanimidade. A crítica internacional reagiu […]

Não dá para dizer que foi uma surpresa, como aconteceu com a premiação de “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” ano passado, mas a Palma de Ouro entregue a “A árvore da vida” no último domingo, assim como ocorreu com o filme tailandês, passou longe de ser uma unanimidade. A crítica internacional reagiu com menos virulência, é verdade, do que no ano anterior. Mas crítica e júri frequentemente entram em desacordo em Cannes. Basta lembrar outro vencedor recente, o estupendo “A fita branca”, do alemão Michael Haneke. A crítica questionou o prêmio concedido pelo júri presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert, habitual colaboradora de Haneke (que, a título de curiosidade está em seu novo filme que deve debutar no próximo festival de Veneza).

Prometido para a edição do ano passado do festival, “A árvore da vida” era um filme que alimentava fortes expectativas. Isso ajuda a entender porque a sessão oficial da fita de Terrence Malick, que não compareceu em nenhum evento público em Cannes, foi marcada por vaias sonoras e aplausos entusiasmados. Muitos críticos, a maioria para dizer a verdade, vaticinaram que o novo petardo do cineasta é uma demonstração de arrogância banal e autoindulgente. Outros se maravilharam com o tema e com a sensibilidade de Malick. Em comum acordo, apenas a excepcional beleza das imagens de “A arvore da vida”. A crítica americana, salvo um ou outro veículo como The New York Times que desgostou da fita, saudou a Palma de Ouro recebida por uma produção do país com apreço. “Épico existencialista de profundo impacto de Malick triunfa na França”, escreveu o blog de cinema The Wrap. Na Europa a reação foi comedida, mas veículos como os franceses Le Figaro e o Le Monde preferiram apontar as boas produções que saíram sem prêmios como “A pele que eu habito”, de Pedro Almodóvar e “Habemus Papam”, de Nanni Moretti.

O cinéfilo brasileiro poderá conferir se o quinto filme de Terrence Malick é digno de opiniões tão polarizantes a partir de 24 de junho, data da previsão de estréia da fita no país.

Outra premiação que gerou repercussão na mídia internacional foi a Palma de melhor atriz concedida à americana Kirsten Dunst por seu desempenho em “Melancholia”, de Lars Von Trier. Alguns analistas diagnosticaram na premiação um “troféu de consolação” para o melhor filme do festival, que teria sido prejudicado pela língua afiada de seu diretor. Outros enxergaram um “exagero” na consagração da atriz preferida de Sofia Coppola. Seria exagero a premiação de duas produções francesas? O drama policial Polisse, que ficou com o prêmio do júri, foi amplamente recriminado pela crítica internacional. A própria imprensa francesa não perdoou a escolha do júri presidido por Robert De Niro. Já a premiação do ator francês Jean Dujardin por “The artist”, embora tida como uma zebra, não foi contestada.

Por Reinaldo Glioche, do Claquete Cultural