| 2 de maio de 2011

Natimorto

“Natimorto”, com direção de Paulo Machline traz aos cinemas uma proposta diferente de cinema nacional. Aqui não há compromisso algum com a realidade ou a racionalidade óbvia da maioria dos filmes brasileiros. A proposta é quase a uma viagem a questões sobre isolamento e loucura com boa dose de devaneio. A história quase que inteira […]

“Natimorto”, com direção de Paulo Machline traz aos cinemas uma proposta diferente de cinema nacional. Aqui não há compromisso algum com a realidade ou a racionalidade óbvia da maioria dos filmes brasileiros. A proposta é quase a uma viagem a questões sobre isolamento e loucura com boa dose de devaneio.

A história quase que inteira se passa num quarto de hotel. No elenco apenas três personagens: Lourenço Mutarelli, Simone Spoladore e participação especial de Betty Gofman (ótima em suas rápidas aparições). Aliás, Lourenço Mutarelli além de personagem principal é o autor da história, pois o filme é baseado em seu livro homônimo.

“Natimorto” conta a história de um caça-talentos que traz a São Paulo uma cantora de música clássica para ser apresentada a um maestro. O que parece uma oportunidade para a moça, na verdade é uma armadilha muito bem planejada pelo seu agenciador.

Enquanto esperam o encontro, os dois começam uma estranha e intensa relação. Ele mal a conhece e já faz revelações íntimas de sua vida. Ela, apesar de achar a situação um tanto maluca, parece querer escutar o que ele tem a dizer.

“Natimorto” é guiado mais pelas ações dos personagens do que pela trama. Criado por uma tia que lia sorte em cartas de tarô, o caça-talentos faz interpretações subliminares sobre imagens que seguem atrás dos maços de cigarro; ambos fumam muito. Os dias que se seguem são guiados por tais interpretações dessas imagens.

Os diversos close-up da câmera e a fumaça excessiva das baforidas dos cigarros vão enclausurando os personagens e dando a impressão de claustrofobia nos espectadores. Os momentos tensos são geralmente à noite onde uma luz externa se altera em vermelho e verde dando um tom fantasmagórico aos dois personagens que devaneiam sobre os mais diversos assuntos.

Em certos momentos, a cantora parece estar entregue a mesma maluquice do caça-talento. Ele pretende se esconder do mundo, isto é, não sair nunca mais do quarto de hotel a fim de se proteger contra a violência do mundo externo.

“Natimorto” é inquietante. Alguns momentos são repetitivos e até cansam, mas talvez tenha sido a intenção do diretor de levar o espectador ao funilamento da transformação de personalidade dos personagens. Mutarelli começa um pouco duro, com falas quase teatrais, mas se recupera no final e entrega um personagem com forte carga dramática. A direção de fotografia e arte são ótimas e merecem ser observadas com atenção, principalmente ao estilo retrô empregado nas roupas e na decoração do quarto de hotel.

“Natimorto”, por fim, é uma opção alternativa às comédias bobinhas ou aos dramas-documentários tanto em voga no cinema nacional e vale por tratar uma história de amor de forma original e angustiante.

Leia a entrevista com o diretor de Natimorto, Paulo Machline.

Por Fernando Império, editor chefe