| 17 de fevereiro de 2011

O samba que deu filme

Vamos lá! Se você que está lendo este post tivesse a oportunidade de dirigir um filme, sobre o que falaria? Qual seria a sua contribuição enquanto artista para a sociedade? Questionamentos assim perambularam na cabeça de Geórgia Guerra-Peixe antes de gravar o documentário “O Samba Que Mora Em Mim” em cartaz nos cinemas desde a […]

Vamos lá! Se você que está lendo este post tivesse a oportunidade de dirigir um filme, sobre o que falaria? Qual seria a sua contribuição enquanto artista para a sociedade? Questionamentos assim perambularam na cabeça de Geórgia Guerra-Peixe antes de gravar o documentário “O Samba Que Mora Em Mim” em cartaz nos cinemas desde a última sexta-feira, dia 11 de fevereiro. “Busquei elaborar o documentário a partir do meu universo emocional, aquilo que de alguma forma me sensibiliza a dizer algo”, conta Geórgia que revela que foram oito anos de trabalho até a conclusão do projeto.

Um mergulho intimista e ao mesmo tempo poético sobre o Morro da Mangueira, um passeio sobre o dia a dia da comunidade que dita regras próprias de convivência e ao contrário do que muita gente pensa, não vive de carnaval 365 dias por ano, mas tem nele a sua marca registrada. Géorgia conseguiu não apenas retratar o cotidiano de quem faz o samba, como tomou todo o cuidado para não apresentar mais um video clichê sobre o tema. “Tivemos um briefing muito sério antes das filmagens e a preocupação era de selecionar personagens comuns que estivessem ligadas a realidade do morro e ao samba, mas que não fossem os representantes da escola”. A Mangueira concordou com a ideia e Geórgia, graças a Cosme, uma fígura líder do Morro, conseguiu liberdade total para falar com quem quer que fosse.

Geórgia comenta que o samba é soberano no morro, principalmente próximo aos carnavais, quando a maioria tem o samba-enredo na ponta da língua, mas uma das suas impressões é que o samba vem perdendo terreno para outros ritmos musicais. “Não que isso seja ruim, mas uma observação que tive é que os jovens do morro não estão mais participando do samba de roda como antigamente era tradição”, revela. O funk, o tecno-funk vem ganhando cada vez mais espaço.

A exibição do filme para a comunidade foi um experiência única para a diretora. “Decidimos que as pessoas deviam assistir primeiramente no cinema e depois se quisessem no telão improvisado, porque o filme foi feito para o cinema, a experiência com a sala escura e foi genial. Fiz questão de ficar escondida para que eles se sentissem à vontade para dizer o que acharam do trabalho e enquanto o filme rodava, as pessoas falavam consigo mesmas e o feed-back deles foi muito positivo”, orgulha-se.

A preocupação em produzir algo real e sincero para e da comunidade do Morro da Mangueira foi o norte de Geórgia que após debutar no seu primeiro longa já planeja novos projetos. A diretora diz também que aprendeu muito sobre fazer documentário e tem levado isso para a publicidade onde também atua profissionalmente, o que chama de docvertisement.

“O Samba Que Mora Em Mim” é um ótimo registro da legítima cultura popular brasileira, uma possibilidade imperdível de conhecer como vivem os anônimos que encantam a passarela da Sapucaí durante 82 minutos do ano. Vale a pena conferir!

Por Fernando Império, editor chefe